Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem.
Por Anna Tiago, repórter do Blog Não é de hoje que a fragilidade do sistema prisional pernambucano está na berlinda.
Enquanto dezenas de presos detectam as fraquezas dos confinamentos e planejam, com êxito, fugas como as que aconteceram na última quarta-feira (20) na Barreto Campelo, em Itamaracá, e neste sábado (23), no Complexo do Curado, na Zone Oeste do Recife, uma promessa parece estar parada no tempo: o presídio de Itaquitinga, na Zona da Mata Norte.
Por falar em tempo, voltemos há exatamente um ano. 23 de janeiro de 2015: o governador do Estado, Paulo Câmara, prometeu, mais uma vez, finalizar o presídio que poderia reduzir os conflitos no sistema prisional.
A declaração foi publicada aqui no Blog.
Além disso, o chefe do executivo estadual ainda assegurou que iria concluir as unidades de Tacaimbó, no Agreste, e Araçoiaba, na Região Metropolitana, que vão oferecer 700 e 3 mil vagas, respectivamente.
Até novembro do ano passado, o presídio de Tacaimbó apresentava 90% das obras concluídas.
O de Araçoiaba teria prazo de dois anos.
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Medidas que buscam, justamente, ajudar o Judiciário nessa questão da análise dos processos, com a contratação de advogados e com a indicação de defensores públicos”, explicou Câmara na ocasião, lembrando que a unidade de Araçoiaba seria entregue até o fim do ano passado, o que não ocorreu.
Voltando um pouco menos no tempo e estacionando em outubro do ano passado, é possível lembrar de mais uma promessa do governador.
Após a situação dos presídios pernambucanos ter sido classificada pela Human Rights Watch (HRW) como calamitosa, ele anunciou um presídio de segurança máxima no Estado.
Uma promessa vaga, sem data para sair do papel e nem a cidade escolhida para receber a unidade. “Vamos buscar recursos para fazer uma unidade que possa receber presos de alta periculosidade.
Não é um projeto barato.
Estamos buscando verba federal, mas a gente tem que atuar no sentido de que se não houver essa verba a gente vai realizar.
Agora não tenho condições nenhuma de iniciar uma obra desse porte, mas espero ter condição ainda no nosso governo”, declarou na época.
Enquanto as promessas se acumulam, detentos explodem muros.
Em entrevista ao Blog, o líder da Bancada de Oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Silvio Costa Filho (PTB), lamentou os episódios e o posicionamento da gestão Paulo Câmara. “São cenas do próximo capítulo.
Há um ano, a Bancada vem relatando a situação precária de colapso que está vivendo o sistema prisional de Pernambuco.
Indicadores apontam que o Estado está entre os três piores sistemas prisionais do Brasil”, disse. “O que se observa é que muitos dos compromissos assumidos pelo governo do PSB não foram entregues à população, a exemplo da PPP de Itaquitinga.
Essa obra já está com mais de dois anos de atraso e, até agora, o Governo não apresentou como vai resolver a situação”, disparou o deputado.
ITAQUITINGA Itaquitinga é um dos dos principais entraves da gestão do PSB na área de segurança pública.
Na época da campanha, Paulo disse que o ex-governador João Lyra (PSB) iria finalizar o presídio.
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No entanto, os trabalhos só iniciaram em junho de 2010.
O final do projeto estava previsto para outubro de 2012, mas foi adiado para 2013.
Em outubro do ano passado, a revista Veja publicou matéria alegando que o Governo de Pernambuco ganhou “cheque especial’ da Odebrecht”.
Segundo áudio divulgado, integrantes do Governo do PSB teriam negociado um empréstimo informal de R$ 100 milhões junto à Odebrecht, que serviria para ajudar a concluir a obra.
Apesar da publicação de áudios da suposta reunião, o Governo de Pernambuco negou envolvimento.
No mês passado, a Oposição na Alepe voltou a cobrar um posicionamento do Governo, que prometeu dar explicações até o dia 30, o que não aconteceu. “O Governo tinha se comprometido a apontar uma solução, dizer como seria a nova fonte de financiamento, a modelagem jurídica implementada, quanto falta para terminar a obra e nada disso foi apresentado.
Os pernambucanos terminaram 2015 sem saber quando essa PPP será entregue”, criticou Silvio Costa Filho.