Por Anderson Gomes, especial para o Blog de Jamildo O debate e opiniões de especialistas sobre o uso de tecnologias na educação, particularmente no ensino básico, é um dos aspectos ainda controversos e com poucas ações concretas por parte dos gestores. É indiscutível que o uso de tecnologias em sala de aula em todos os níveis é necessário.
E não devemos esperar para as escolas do futuro, mas para as escolas atuais.
Não dá mais para continuar somente com o quadro e giz (ou equivalente).
No ensino básico, a necessidade do uso de tecnologia é mais premente, principalmente na rede pública.
Mas, mesmo necessário, a tecnologia não é suficiente para ajudar o estudante a aprender, nem mesmo para ajudar o professor a colaborar na aprendizagem do estudante.
O uso de tecnologias como ferramentas pedagógicas – tanto hardware como software, que traz os conteúdos essenciais – precisa de capacitação do professor.
E não dá pra ser aquela capacitação de inicio de semestre, durante dois dias em um hotel!
Precisa ser periódica, na escola, na sala de aula, bem como em horário no qual o professor esteja disponível na escola.
O uso de metodologias e tecnologias à distância pode e deve ser usado pelo professor.
Muito se reclama – com razão – da baixa qualidade e velocidade do acesso à internet nas escolas públicas.
Um estudo que é realizado anualmente desde 2010 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Comitê Gestor da Internet do Brasil pode ser encontrado em (https://cetic.br/pesquisa/educacao/). É um documento importante para gestores e professores, que aponta os gargalos e traz exemplos de soluções.
O Instituto Ayrton Senna (https://www.institutoayrtonsenna.org.br) também realizou pesquisa sobre o tema, em 2014, e tem chamado atenção para o problema.
No entanto, enquanto os gestores responsáveis, em todos os níveis, não resolvem o problema do acesso à internet de qualidade, existem saídas tecnológicas: o uso de servidores (equipamento que armazena e dissemina informações em rede) na escola podem armazenar todo o conteúdo necessário e ser usado internamente em rede na escola sem que os usuários internos estejam com acesso à internet.
A infraestrutura de rede – com ou sem fio – interna é naturalmente necessária.
Existem roteadores com capacidade de armazenamento de 2Tb, preço accessível, que podem ser usados em sala de aula.
Disponibilizam tudo em rede, sem fio.
Para fazer o “download” de material didático para o servidor, pode ser utilizado horários onde a demanda é baixa.
Em Pernambuco, cujo exemplo conhecemos bem, os estudantes do segundo e terceiro ano do ensino médio tem um laptop, com conteúdo pedagógico.
Precisa ser mais explorado.
As salas de aula – cada uma – tem um Datashow.
Os professores tem um laptop.
O quadro e giz ainda estão lá.
Boa parte das escolas tem rede sem fio interna e servidores.
Na rede municipal de Recife, os estudantes do Fundamental II também tem seus laptops.
Este investimento feito nos últimos anos, agregados a vários outros investimentos estão no caminho certo, mas a capacitação adequada (sem contar outros aspectos motivacionais) ainda é insuficiente.
No âmbito da UFPE, sob a coordenação do Departamento de Física, um projeto de capacitação de professores de Física, Química e Biologia no uso de tecnologias como ferramentas educacionais terá inicio no primeiro semestre de 2016, no campus Recife (incluindo o Colégio de Aplicação), Caruaru e Vitória.
Os recursos foram obtidos na CAPES.
Todos os equipamentos e conteúdo a serem utilizados – já disponíveis e entregues - são os mesmos que estão nas escolas públicas: este é um dos poucos exemplos de treinamento em nível superior onde o que vai ser aprendido pelos licenciandos “fala” com a sala de aula da escola pública.
Este projeto pode ser espalhado por todo o Estado, se houver apoio financeiro.
A proposta também prevê a capacitação “continuada” dos professores da rede estadual.
Num momento em que a relação ensino-aprendizagem na área de ciências é um dos gargalos na formação dos estudantes, o uso de tecnologias na educação, com ferramentas e capacitação adequadas, pode sim fazer a diferença.
Precisamos começar já!??
Anderson S.
L.
Gomes (andersonslgomes@gmail.com) é ex-secretário de C&T e de Educação de Pernambuco.
Professor no Departamento de Física, UFPE.