Agência O Globo - A vida dos deputados federais no WhatsApp é intensa.
Desde o início da atual legislatura, no ano passado, foram criados inúmeros grupos temáticos no aplicativo para troca de mensagens instantâneas. À primeira vista, a participação exclusiva de parlamentares pode dar a impressão de que o foco exclusivo das atenções é a política.
Na prática, o aplicativo se tornou uma fonte de diversão para muitos eleitos.
Em novembro, quando o senador petista Delcídio Amaral (MS) foi preso, o WhatsApp da bancada do PMDB — a segunda maior da Câmara — foi dominado por memes ironizando a situação.
Um deles mostrava uma montagem com uma foto de Delcídio misturada a um aspecto marcante do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró: a assimetria entre olhos.
Outro simulava um locutor de rádio dedicando a música “Vamos fugir” de Delcídio para Cerveró, uma referência ao fato de o senador ter tentado organizar a fuga do delator.
Entre as brincadeiras mais populares nos últimos meses estão aquelas que envolvem o “Japonês da PF”, o agente Newton Ishii, conhecido por sua atuação nas prisões da Lava-Jato.
O senador José Serra (PSDB-SP) também virou meme por conta do “barraco” protagonizado com a ministra Kátia Abreu (Agricultura) em um jantar de confraternização em dezembro passado, que terminou com a peemedebista jogando sua taça de vinho no tucano depois de um bate-boca provocado por um comentário considerado machista.
Apesar das frequentes piadas, o líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), diz que o aplicativo também serve para os debates.
Por garantia, Picciani conta que sempre manda as orientações para votações por meio de SMS, considerado ultrapassado por muitos de seus colegas: — Nem todos os deputados usam o WhatsApp, então orientação da votação passamos por mensagem de texto mesmo.
No WhatsApp é mais debate, brincadeira e futebol.
Há grupos que usam sem moderação o aplicativo.
Um deles, integrado por representantes da bancada da bala, tem o hábito de trocar imagens e vídeos pornográficos.
O grupo “clandestino” foi criado em 2015, após uma deputada repreender os colegas que usaram o WhatsApp da Frente Parlamentar da Segurança Pública, nome oficial da bancada da bala, para publicar imagens de mulheres nuas.
Presidente da bancada, Alberto Fraga (DEM-DF) diz que o incidente de pornografia ocorreu logo após a criação e que, como havia mulheres entre os integrantes, ele pediu para que o assunto fosse banido: — Foi só uma vez.
Aí uma deputada se manifestou.
Eu intercedi: “tem mulher no grupo” e pedi para não ter mais, que ali era só para tratar de segurança.
Acho que foi até criado um outro grupo com outros assuntos.
BANCADA DA BALA: ARMAS Há os que usem o aplicativo para debater situações difíceis.
Em 2015, quando os deputados do PT no Conselho de Ética debatiam o apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — que manobrava para adiar a votação do processo de cassação do seu mandato —, colegas pressionaram pelo WhatsApp: “O PT ficou exposto!
Temos que nos reunir para definir uma posição (…) Não podemos nos submeter a essa vergonha.
O PT nunca mais conseguirá se recuperar se errar!”, disse um deles.
A bancada da bala ainda usa o aplicativo para defender temas de interesse, como o direito de andar armado no Congresso: “Por que não posso usar sequer uma faca e os índios podem vir aqui armados de flechas e bordunas?”, questionou um deputado. (Colaborou Eduardo Bresciani)