Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo Foi assim: Ricardo Salinas, o terceiro homem mais rico do México, desembarcou no Recife no seu jato particular na companhia da mulher e do filho e se hospedou na maior suíte do Atlante Plaza com uma equipe de assessores.
Veio para inaugurar as operações de seu Banco Azteca num evento que contou com ninguém menos que o Presidente Lula na última semana de março de 2008.
Salinas chegou vestido de camisa branca sem gola e chapéu e Panamá para conversas com Lula e Antônio Delfim Neto que o ajudara a legalizar seu banco no Brasil em tempo recorde.
Delfim Neto virou uma espécie de consultor internacional do banqueiro dono de uma fortuna de U$ 4,5 bilhões segundo a Forbes.
Na plateia um governador Eduardo Campos encantando com as perspectivas que Salinas via no Nordeste especialmente Pernambuco.
Disse ao governador que mirava em 1.000 lojas no Brasil, a maior parte no Nordeste, especialmente em Pernambuco.
O cenário que Delfim Neto traçara para Salinas fazia sentido para o seu banco de varejo ocupar aqui.
O Azteca se notabilizou no México por combinar um banco popular que empresta dinheiro na mesma loja que vende eletrodoméstico e recebe por semana.
O confronto na ponta mostrou que Salinas não entendia nada do varejo brasileiro e achou que podia ocupar um espaço que os estudos indicavam existir no Nordeste lugar aonde ele decidiu fixar a sede da instituição.
Não calculou o nível de agressividade que todos os dias empresas como Magazine Luiza, Ricardo Eletro, Ponto Frio e gigantes como Carrefour e Wal-Mart travam para vender a linhas branca e marrom.
Ele abriu quase 20 lojas Elektra em bairros da periferia de Jaboatão dos Guararapes e municípios da RMR onde se podia tomar dinheiro emprestado.
Mas o modelo de negócios (pagamento por semana) teve que ser mudado logo para mensal.
Depois, acostumados no México a cobrar diretamente quem atrasa as prestações inclusive tomando os produtos, salina viu seus cobradores serem ameaçados de morte nos bairros da periferia quando eles foram lá cobrar a parcela vencida de moto.
Teve que se render as mensagens no celular e no SPC-Serasa.
Mas o problema do Azteca e da Elektra era preço.
O gigantismo das nossas redes de varejo e as condições de negociações são 10 ou 15 vezes maiores que os do mercado México.
Os volumes fazem toda a diferença e a Elektra não disputava preço nem na periferia.
Foi presa fácil das gigantes e até de redes regionais aqui em Pernambuco.
Sem preço, o crediário do Banco Azteca não aguentava o negócio no Brasil.
Nesta sexta-feira o Banco Central do Brasil decretou, a liquidação do Banco Azteca do Brasil S.A., com sede na cidade do Recife, em decorrência do comprometimento da sua situação econômico-financeira, da violação das normas legais e regulamentares e da ocorrência de prejuízos, sujeitando os credores quirografários a risco anormal.
O sonho de ser um player virou miragem.
O Azteca do Brasil é instituição financeira de pequeno porte, autorizada a operar as carteiras comercial e de crédito, financiamento e investimento.
Possui apenas uma agência e detém 0,0005% dos ativos do sistema financeiro e 0,0009% dos depósitos.
Segundo Banco Central 68% do total dos depósitos do Banco Azteca do Brasil contam com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e o BC está tomando todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades, nos termos de suas competências legais de supervisão do sistema financeiro.
No mercado se comenta que Salinas queira o que o BC jamais faria: Ter o direito de fechar seu banco e ir pagando os seus CDBs a medida que eles fossem vencendo.
O BC disse não e exigiu que ele aportasse os R$ 17 milhões que estão descobertos.
Ele se negou o BC mandou liquidar o Azteca.
E assim acabou sonho brasileiro de Ricardo Salinas que por isso agora não pode mais ter negócios no Brasil.
Assim como perdeu sentido a fala de Lula na inauguração da primeira Elektra quando disse que não era é habitual no Brasil um presidente inaugurar uma loja ou um banco privado, mas que ficara entusiasmado ao saber da tentativa deles de criar uma nova cultura e reduzir as taxas de juros, disse o presidente em Jaboatão dos Guararapes.
Na verdade Lula perdeu a viagem.
O Azteca não tinha taxas menores nem tinha nenhum diferencial.
Simplesmente não tinha espaço nem no varejo nem no setor bancário brasileiro.