Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo O delegado foi chamado para autuar uma senhora, por roubar dois sacos de leite para alimento do filho.

Ela era tida na cidade como uma pessoa extremamente honesta e trabalhadora.

Mas, como o marido tinha sido acometido de uma doença grave, ela ficou cuidando dele, por isso, não dispunha tempo para fazer um trabalho rentável - lavar e passar roupa.

Como o marido e os filhos dependiam completamente dela, a senhora, em seu desespero, roubou dois sacos de leite para dar aos filhos famintos e cansados de comer macaíba, farinha e palma.

O que chamou mais a atenção, ser espancada pelo segurança do supermercado, e, em seguida, presa.

Ao chegar à delegacia, o delegado Macedão viu a senhora, atrás das grades, com hematomas no rosto.

Então, perguntou ao soldado: - Quem fez isso?

Por que é que essa senhora apanhou? - Não foi a polícia que lhe bateu.

Pegaram-na no supermercado.

O segurança bateu-lhe porque estava querendo fugir.

Ela ficou nervosa e o segurança teve que a conter batendo.

Esta foi a primeira situação que o delegado encontrou após ser nomeado.

A senhora tinha sido a primeira presa.

A primeira autuação, nenhum delegado esquece.

O que chamou a atenção foi todos saberem onde a senhora morava e sempre compradora naquele supermercado, mas, só por ter colocado os sacos embaixo da saia, foi agredida.

Apesar da sua irritação e resistência à prisão, presenciada pelos clientes do estabelecimento e, na opinião de várias testemunhas, foram cometidos excessos pelos seguranças.

Vendo tal situação, o delegado resolveu cometer uma arbitrariedade, na época, Além-Mar entrava em um período de estabilidade política, em que os direitos humanos eram o principal discurso político.

O delegado ignorou isso no momento.

Assim, imediatamente, com o vigor de um jovem policial, detentor de poderes que se achava ter, quando se entra na polícia, resolveu mandar prender o vigilante.

O dono do supermercado, o prefeito e autoridades locais foram falar com o delegado, reclamando por ter sido cometido tal deslize.

Mesmo assim, o delegado manteve o vigilante preso.

No outro dia, mandou chamar a senhora e perguntou-lhe se queria vingar-se do vigilante.

Respondeu: sim.

Assim, o delegado mandou chamá-lo, algemou-o, sentou-o numa cadeira e disse-lhe: - Bata nele.

Bata neste covarde, que espancou a senhora sem motivo.

O vigilante desesperou-se: - Delegado, você não pode fazer isso.

Isso é um crime. - Crime é o que você fez com ela.

Como não vai dar nada para você, e agora não tem testemunha, ela vai bater em você.

O que espantou o delegado, foi a senhora tentar levantar a mão, chorando, porque nunca tinha sido tão humilhada e, em vez de dar-lhe uma tapa, deu um beijo na cabeça do vigilante e disse que o perdoava.

A violência, na opinião dela, devia ser combatida com amor.

Isto ficou na cabeça do delegado.

Assim, ele tentou, ao longo de sua vida, praticar um pouco do ensinamento daquela senhora, mas, a realidade da vida de um policial não permite compaixões.

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