Foto: José Cruz/ Agência Brasil (24/03/2015) Agência O Globo - Três meses depois de reassumir o Ministério da Educação, Aloizio Mercadante não se conforma com sua queda da Casa Civil, cargo no qual era tratado como uma espécie de primeiro-ministro.
Ele foi alijado da linha de frente do governo e tem se concentrado nos assuntos de sua pasta, apesar de continuar conversando ocasionalmente com a presidente Dilma Rousseff.
No mês passado, Mercadante pediu uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal artífice de sua derrubada, e disparou, segundo relato de integrantes do PT. “Vocês vão se arrepender muito de terem me tirado da Casa Civil”, disse.
O ministro nega. “Eu jamais disse ao presidente Lula ou a quem quer que seja que o governo se arrependeria se eu saísse da Casa Civil.
Concordei plenamente com a decisão e fiquei extremamente agradecido à presidenta Dilma por voltar ao MEC, ministério com o qual tenho profunda identidade, mesmo porque fui professor por minha vida toda.
Saí das urgências para trabalhar com o que considero a pauta mais estratégica do país e a prioridade do governo”, disse ele, por meio de sua assessoria de imprensa.
Petistas reagiram às gargalhadas ao ouvirem o relato de Lula.
Para eles, o ministro Jaques Wagner, que substituiu Mercadante, é mais habilidoso na articulação política e “se impõe” na relação com Dilma.
Outra diferença apontada é que Wagner concede mais entrevistas, reforçando a comunicação do governo.
O novo ministro da Casa Civil, no entanto, está no foco da Lava-Jato desde a semana passada, quando foi divulgada troca de mensagens do empreiteiro Léo Pinheiro com executivos da OAS sobre pedidos de doações de Wagner para a campanha eleitoral à prefeitura de Salvador.
Já o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou, em delação premiada, que recursos desviados da petroleira podem ter abastecido o caixa da campanha de Wagner ao governo da Bahia, em 2006.
As doações teriam saído de contratos da construção de um prédio da estatal em Salvador.
Apesar de, em conversas reservadas, demonstrar ressentimento, em audiência pública na Comissão de Educação do Senado, vinte dias após ter reassumido o MEC, Mercadante disse que estava satisfeito com a troca. “Deixei de ser goleiro e, agora, vou ser centroavante”, disse.
Mesmo afastado do dia a dia do Palácio do Planalto, ele demonstrou nervosismo no auge do processo de impeachment, no final do ano passado, de acordo com integrantes do governo.
E o petista ficou feliz, embora tenha sido discreto, com a queda de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda.
Da ala desenvolvimentista do governo, Mercadante tinha divergências profundas com ele.
A saída de Mercadante da Casa Civil foi uma espécie de refundação do governo em meio à crise política e à ameaça de impeachment.
O ex-presidente Lula defendia a mudança desde o final de 2014.