Em nota oficial, a empresa Aqualíder disse, nesta sexta-feira, que nenhum tipo de financiamento público foi realizado ou pleiteado para o projeto de tanques-rede para criação em cativeiro de peixes em alto-mar na costa pernambucana. “O projeto foi 100% financiado com recursos privados, por conta e risco dos seus sócios”.

Em um documento do Ministério Público Federal, publicado pelo blog abaixo e datado de Marco de 2009, assinado pelo procurador da República Anastácio Nóbrega Tahin Júnior, com base em informações do professor Fábio Hazin, diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura, Depaq, da UFRPE, cita textualmente uso de recursos públicos. “.. dentro deste mesmo contexto, e com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do cultivo do beijupira no Estado, o Depaq/UFRPE vem empreendendo um esforço de pesquisa cooperativo com a mesma Aqualider, o qual incluirá a cessão pela referida empresa, à UFRPE, sem qualquer ônus para esta última, de uma área de tanques e laboratórios, nos quais será possível desenvolver diversas pesquisas relacionadas ao cultivo da espécie… cabe aduzir (acrescentar, somar) que os recursos financeiros para o desenvolvimento das pesquisas mencionadas foram disponibilizados pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) e que todos os resultados obtidos serão de domínio público (…) (folhas 34/39)” Em outro trecho, afirma: “observa-se, também, cópia da portaria nº 129, de 04 de junho de 2007, da Secretaria de Patrimônio da União, através da qual declara com o imóvel de interesse de serviço público a referida área (do projeto em alto mar), destinada à execução do projeto a cargo da Sceretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) para o cultivo do rachycentron canadum” Se o MPF arquivou a denuncia dos pescadores afirmando que não haveria privatização do mar, o projeto ainda sim era privado e 100% financiado pelo grupo?

Faz sentido?

Reportagem do Blog do último dia 15 mostrou que os tanques-rede de projeto milionário estão abandonados no molhe do Recife.

Restos de um projeto visionário do governo Lula orçado em R$ 10 milhões estão boiando nas água do Rio Capibaribe, mais precisamente no molhe do Recife, próximo ao restaurante Casa de Banho.

As pessoas que circulam pela região podem notar três grandes estruturas arredondadas feitas de plástico, abandonadas no local.

Poucos sabem o que é.

Os objetos são parte do que seriam tanques-rede para criação em cativeiro do peixe cação de escama, também conhecido como beijupirá.

Para um breve resumo histórico: em 2009, a empresa Aqualíder, com apoio do então presidente Lula, ao lado do prefeito do Recife, João da Costa (PT), e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), implantou o que prometia ser a primeira fazenda marinha de criação de peixes do Brasil.

O peixe, difícil de ser encontrado na costa brasileira, chegou a ser criado em cativeiro.

Mas, no final de 2010, o projeto naufragou, junto com o investimento milionário – que foi destaque nos jornais.

O investimento audacioso foi tema de diversas reportagens na época de sua implantação O pedreiro Luciano Rosendo, 36 anos, vai até os arcos de plástico para pescar por hobby durante a semana.

Ele que disse que há cerca de cinco anos o material está no local levando apenas curiosidade a quem passa. “Já coloquei a mão, aqui embaixo não tem rede, só junta uns mariscos.

Além disso, já joguei a rede dentro e não tem nada que não tenha fora”, disse ele, que nem sabe que caminha sobre tanques-rede que foram importados do Chile por US$ 35 mil cada.

Hoje, as estruturas – praticamente – não têm dono.

A reportagem entrou em contato com o Porto do Recife, responsável pela regulação do uso da área onde as boias estão depositadas, para saber qual prosseguimento seria dado àquelas peças.

Através da comunicação social do órgão, a resposta dada foi de que o assunto deveria ser respondido pela Aqualíder ou pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), instituição que apoiou a implantação da fazenda de beijupirá.

Lula, João Paulo, Eduardo Campos e João da Costa estiveram presentes no lançamento.

Foto: Chico Porto/ Acervo JC Imagem A empresa privada, idealizadora do projeto, sumiu do circuito, até o começo desta semana.

Não havia como não há mais site ativo e os telefones relacionados à Aqualider não funcionam.

O que se sabe é que o empreendimento fechou as portas em silêncio, na época, com o argumento de que, entre os motivos, estava a má qualidade da ração fornecida no Brasil, problemas ambientais e até um acidente com um barco pesqueiro.

Depois da revelação do blog, o grupo controlador contratou as pressas uma assessoria de imprensa para responder o caso, com a nota telegráfica acima.

Já a UFRPE havia afirmado, em nota, que “a respeito da fazenda marinha de beijupirá, inaugurada entre 2008 e 2009, em Pernambuco, a UFRPE esclarece que forneceu apoio técnico ao projeto, que era de responsabilidade da empresa Aqualíder.

Esse apoio foi com pesquisadores do Departamento de Pesca da UFRPE, tanto no fornecimento de consultoria técnica quanto no treinamento com pescadores, na fase inicial de implantação.

A partir desse momento, a execução das atividades permaneceu sob responsabilidade da empresa Aqualíder.” A reportagem também entrou em contato com o Ministério da Pesca, mas não obteve retorno.

Na quinta-feira, o governo Federal informou que estava analisando o caso.

MPF arquiva denuncia de privatização do mar HISTÓRICO – Polêmico, o projeto de criação de uma fazenda de beijupirá na costa pernambucana chegou a ser acusado de “privatização do mar”, por associações de pescadores da Região Metropolitana do Recife.

A proposa era instalar 48 tanques numa distância de 11 km das praias da Zona Sul do Recife, mas apenas quatro saíram do papel.

No primeiro – e único – ano da fazenda de beijupirá, cerca de 40 toneladas de peixe foram retirados do mar.

O projeto, que levou cinco anos para virar realidade, era a concretização de um plano nacional que demorou cerca de 15 anos para ser desenvolvido.

A proposta de desenvolver o cultivo de peixes em fazendas marinhas e continentais solucionaria o problema do déficit de estoques pesqueiros do País.

Conforme se disse aqui no começo da semana, nossos peixes vão continuar morrendo de velhice mesmo.

Não correm risco algum de serem pescados, nem em cativeiro.