Por Osvaldo Matos, no livro A Lei do Cão Era uma tarde de quinta-feira – na cidade de Pegaprar, no distante sertão de Além-Mar – quando chegou, de repente, no distrito policial uma velhinha chorando copiosamente, trazendo um jumento ferido.

O delegado ficou preocupado, por tratar-se de uma senhora trabalhadora e querida por todos.

Ela usava o jumentinho para levar seus queijos e doces para a feira.

Ela, aos prantos, expôs ao delegado ter um cidadão bêbado, metido a brabo, cortado a orelha de seu jegue na feira, com a pretensão de comê-la como tira-gosto.

O amor da velhinha pelo jegue era grande, nada a fazia parar de chorar.

Soluçava de uma forma que preocupou os policiais, a ponto de ficarem receosos de que acontecesse algum problema em sua saúde.

O jovem delegado da cidade resolveu tomar as dores da velhinha.

Mandou buscar o autor da tal maldade e resolveu prender o agressor.

Em seguida, pediu ao farmacêutico da cidade que fizesse um curativo no jegue, porque não existia veterinário.

O cidadão bêbado ficou durante quatro dias na cela.

O que chamou atenção era a orelha do jegue estar amarrada em um cordão, colocado no local onde os policiais faziam as necessidades fisiológicas.

Passados quatro dias, o delegado mandou buscar o agressor metido a brabo, a cavalo do cão.

Mandou trazer uma garrafa de cachaça e colocou-a em cima do birô.

Falou: - Agora, você vai comer o seu tira-gosto.

A orelha do jegue, praticamente em estado de putrefação, o agressor foi obrigado a ingeri-la embaixo de porrada.

O delegado resolveu dar um corretivo na hora em que ele estava sóbrio, para ver o quanto de sofrimento causara ao animal.

Como dificilmente na justiça, ele seria condenado ou cumpriria qualquer pena, o delegado resolveu aplicar a justiça que entendia ser a mais correta.

O preso, depois de cinco dias, foi solto, após o cumprimento do castigo.

Quando caminhava na rua, as pessoas brincavam, dizendo: - Mas, rapaz, tu comeu a orelha do jegue?!

Ele respondia o seguinte: - Daquela forma, eu comeria até o jegue inteiro!