Por José Maria P. da Nóbrega Jr, especial para o Blog de Jamildo O tema das guerras religiosas no oriente, ou da jihad, é bem delicado e costuma deixar os ânimos bastante alterados quando se emplaca essa discussão.

Na Universidade brasileira é praticamente um tabu falar de Israel, e a Palestina é vista sempre como vítima de todo o processo, o lado fraco que precisa de defensores, sobretudo a esquerda intelectual de historiadores e sociólogos de plantão.

Vamos entrar um pouco nessa seara delicada tendo como condutor do pensamento o ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger.

Sua experiência no alto escalão do governo da maior potência mundial e sua carreira brilhante como acadêmico e diplomata são relevantes e sua visão não pode ser colocada em segundo plano por sua posição ideológica e política.

Israel nasceu numa região inóspita e de pequena extensão territorial e foi vista pela comunidade árabe como uma ofensa. “A existência de Israel e suas proezas militares foram sentidas através do mundo árabe como uma humilhação”.

A região é estratégica para os governos dos Estados Unidos e os conflitos que envolvem os israelenses estão sempre na ordem do dia do presidente e de seu estado maior. “Duas gerações de árabes foram formadas com a convicção de que o Estado de Israel é um usurpador ilegítimo do patrimônio islâmico.

Em 1947, os países árabes rejeitaram um plano da ONU para a participação do protetorado britânico na Palestina em dois Estados separados, um árabe e um judeu”.

O espaço cedido para o Israel fora protetorado britânico, a liga árabe foi contra a formação de dois estados.

Dessa feita, tentaram extinguir Israel mesmo antes do mesmo se consolidar como estado.

O fracasso dos árabes não fez com que os mesmos aceitassem um acordo político. “Em vez disso, o que se sucedeu foi um longo período de rejeição política e a um relutante acordo de armistício, tendo como pano de fundo os grupos radicais que procuravam forçar a submissão de Israel por meio de campanhas terroristas” (grifo meu).

A questão é que os árabes, sobretudo os islâmicos ortodoxos, que são maioria, não seguem o modelo de ordem internacional ocidental, que tem suas bases nos princípios vestfalianos de estados soberanos e laicos.

O líder egípcio, Anwar Sadat, até tentou superar a ordem do Islã e seguiu os princípios conceituais de ordem internacional vestfaliana, mas terminou sendo assassinado.

De outro lado, não é fácil tentar negociações dentro de Israel, também, que diga o ex-premiê Yitzhak Rabin, assassinado por um judeu radical religioso.

Nos últimos vinte anos Israel viu surgir organizações que tem como principal motivo de sua existência exterminar o estado judeu. “No Líbano, na Síria e nos territórios palestinos – especialmente em Gaza – uma razoável força política e militar é agora exercida por islamistas radicais – Hezbollah e Hamas -, proclamando o jihad um dever religioso para pôr fim ao que é em geral denunciado como a ‘ocupação sionista”.

O Irã completa essa lista de inimigos do povo judeu.

Os árabes, em sua maioria, querem destruir Israel.

O radicalismo islâmico é superior aos moderados.

Os líderes palestinos e israelenses não conseguem sustentar acordos de paz por muito tempo.

Há um grupo bem maior de islâmicos que procura destruir Israel pela confrontação permanente.

Fica difícil para Israel, recuar é demonstrar fraqueza.

Avançar é ser criticado por parte da comunidade internacional.

Na América Latina há uma antipatia gratuita a Israel.

Alguns líderes latino-americanos já demonstraram aproximação com o Irã, principal inimigo do Ocidente com o seu regime autoritário dos aiatolás.

Não há acordo próximo para uma ordem internacional de equilíbrio de poder entre árabes e judeus.

A ordem vestfliana não é aceita pelos árabes.

Israel sabe disso, portanto não acredita em nenhuma possibilidade de paz e com as ameaças constantes sofridas pelos seus vizinhos radicais, fica difícil o recuo.

Por enquanto, o jogo é de soma zero e os jogadores precisam potencializar seu poderio militar e bélico para se manter no tabuleiro das relações internacionais no Oriente Médio. É importante destacar que, neste jogo, o único modelo de democracia é Israel.

José Maria P. da Nóbrega Jr. apresenta-se como Doutor em Ciência Política e Professor da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba.

Ps do autor: Baseado em Henry Kissinger em “Ordem Internacional”, Editora Objetiva (2014), Rio de Janeiro, pp. 133-137.