Cardozo fez um desabafo para a plateia formada exclusivamente por autoridades da PF, formandos, familiares e convidados.

Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou de “revolução” as operações da Polícia Federal de combate a corrupção que estão submetendo “pela primeira vez na história pessoas que têm poder político e econômico ao peso da lei da mesma forma que os pobres.” O discurso foi feito no último dia 18, durante cerimônia reservada de formatura de 600 novos agentes. “Essa é a revolução republicana e a Polícia Federal é um dos agentes dessa revolução democrática, ordeira, disciplinada.

Mas uma revolução que fará, para nós, para os nossos filhos e para os nossos netos, um país diferente daquele que nós recebemos.” Cardozo disse no discurso que para ser um bom policial é preciso “combater práticas criminosas” onde quer que estejam.

E exemplificou: “Não importa que se encontrem nos palácios, dentro das mansões ou da nossa própria organização.” E aconselhou os agentes a exercerem suas funções com autonomia.

Criticado pela cúpula do PT por não controlar a PF que tem mirado vários membros do partido, Cardozo fez um desabafo para a plateia formada exclusivamente por autoridades da PF, formandos, seus familiares e convidados. “Quando a Policia Federal castiga opositores, é o ministro que a instrumentaliza com o caráter persecutório para punir adversários.

Quando a Policia Federal investiga aliados, é o ministro que é incompetente e não controla a sua polícia.

Não é na verdade nem uma coisa nem outra É fato que um ministro da Justiça, embora tenha seu poder hierárquico na Polícia Federal, jamais deverá utilizá-lo para pedir que se investigue inimigos ou que se poupe amigos.” O ministro, que é filiado ao PT, afirmou no discurso que se “orgulha da Polícia Federal e do trabalho que ela tem desempenhado no Brasil” e defendeu que as investigações prossigam “doa a quem doer”.

Ele não nominou operações nem mesmo a Lava Jato que tem sido alvo de críticas dos seus colegas de partido. “Não raras vezes um paciente que tem uma doença oculta, indolor, se revolta contra o médico quando o outro diz que ele está doente e que pode morrer.

Mas, na verdade, é este diagnóstico, é a ação que às vezes pode até ser dolorosa, que fará com que a pessoa sobreviva e saia da situação mais fortalecida. É assim que vivemos hoje no Brasil.

Há de se colocar as entranhas para fora, doa a quem doer.” Cardozo destacou que as investigações sobre corrupção tem o efeito de transformar o Brasil. “O Brasil era o país onde a lei valia para uns, mas não valia para outros.

Esta realidade é que vem se transformando e é por isso que acontecem incompreensões quanto ao papel das instituições.” E complementou: “Esta é a dimensão republicana que nós estamos hoje vivenciando no Brasil.

E daí os problemas e daí as angústias.

Quando a luz do sol se coloca sobre a corrupção, que já existia, nós nos sentimos mal.

Mas é bom que seja assim!” O ministro fez um paralelo entre as mudanças tecnológicas que o mundo tem vivenciado e as transformações no Brasil por consequência do combate à corrupção. “O mundo tem mudado em uma velocidade vertiginosa e, dentro do mundo, o Brasil também tem mudado.

Só que no Brasil nós temos visto nos últimos tempos não apenas mudanças tecnológicas.

Como nominar estas mudanças?

Eu ousaria nominá-las como republicanas.” Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Brito foi o patrono da turma de novos agentes.

O ministro usou uma história pessoal para exemplificar as mudanças que o País tem vivido. “Eu estava em uma reunião muito importante, quando me pediram com urgência que eu atendesse a um telefonema da minha filha.

Eu falei que não podia, mas me falaram ser muito urgente.

Fui atender e minha filha dizia: “Pai, você precisa tomar uma providencia imediata, como Ministro da Justiça”.

Eu perguntei: “Que foi filha?”.

E ela me respondeu que “um juiz tentou tirar o WhatsApp de circulação.

Como é que nós vamos viver agora?”. “Há poucos anos atrás, ninguém imaginaria uma realidade dessa”.