Quem confia no PMDB?

O vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta a presidente Dilma se descomprometendo com a defesa de seu mandato e alegando que ela jamais confiou em si e em seu partido, o PMDB.

Convenhamos: qualquer desculpa serve, quando a decisão de fazer ou não fazer algo, já está tomada (há muito tempo).

Quem não sabe que o principal beneficiado com o eventual impedimento da titular do cargo será exatamente o vice-presidente, o mesmo Michel Temer? - Ou seja, a questão da ruptura de Temer (malfadadamente, Sírio-libanês, como Maluf) era uma questão de tempo (“timing”, como dizem por aí).

Já estava tomada.

Cogitava-se que o desembarque do PMDB do governo era para novembro.

Foi adiada para o ano que vem.

Agora, foi antecipada em função das “chicanas” do suspeito e investigado presidente da Câmara dos Deputados, o evangélico Eduardo Cunha.

O constitucionalista Michel Temer, casado com uma ex-miss, é uma espécie de esfinge, cujos os desígnios íntimos são imperscrutáveis.

Só ele mesmo deve saber quais são.

Mas, como uma raposa de quintal, dissimula como ninguém: diz gosto, odiando; apoio, desapoiando, conspiro, defendendo e por aí vai.

Ou seja, Temer é um profissional da dissimulação.

E que age e atua exclusivamente em razão de suas conveniências políticas mediatas e imediatas.

Enxergou na possibilidade da admissibilidade do “impeachment” da presidente da República a chance de se tornar presidente, sem ter de concorrer às eleições.

Foi confabular com a ala oposicionista de seu partido e os chefes “impolutos” da oposição à Dilma: figuras caricatas de estadistas e pró-homens da República: o playboy de Minas Gerais, o filho da oligarquia do agreste de Pernambuco, o pelego da Força Sindical e o ganster-presidente da Câmara dos Deputados.

Certamente, deve já ter vendido a alma ao demônio, para exercer um mandato-tampão e não se candidatar às eleições presidenciais em 2018.

Pode se confiar num acordo desses?

Por outro, o que é o PMBD? - Um partido-ônibus?, Um partido-guarda-chuvas? - Uma frente política? - Ou um amontoado de chefes políticos locais, que não obedecem a nenhum comando, a nenhuma liderança nacional, sem programa, identidade partidária ou princípios republicanos? - O Partido do Movimento Democrático Brasileiro morreu com o doutor Ulisses Guimarães.

E cumpriu (bem) sua tarefa de conduzir a redemocratização do Brasil.

Permanece como uma assombração, fazendo coisas ruins.

Chantageando, vendendo apoio em troca de ministérios, nomeações e verbas. É representado por um punhado de políticos que, com raríssimas exceções, não merecem o menor respeito ou confiança para participar de “um bolão” da Caixa Econômica.

Como se pode confiar num partido que tem como grandes expressões nacionais: Jarbas Vasconcelos (que saiu do partido, inúmeras vezes, quando lhe convinha), José Sarney, o presidente da Arena, Romero Jucá, tantas vezes investigado por crimes cometidos contra a República, Renan Calheiros, que até a cabeleira é falsa.

E o pior de todos, a raposa dissimulada do Michel Temer, que se aliou ao PT, por mero cálculo político - de que seria beneficiado em qualquer das hipóteses: apoiando a Dilma ou se opondo ao seu mandato, ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo?

O sistema partidário brasileiro há muito tempo vem sendo questionado pela sua incapacidade de dar aquilo que promete: equilíbrio, governabilidade, sustentação parlamentar, eficácia legislativa, representatividade popular.

Este sistema entrou num alto grau de desagregação política.

Não produz mais nada, a não ser o caos, o contra-exemplo de uma elite parlamentar preocupada com o interesse público.

Não sabe (e como poderia saber?) que, com isso, contribui e muito para a descrença, o pessimismo, a desesperança da população em relação a classe política brasileira.

E alimenta aquele pensamento perigoso de que quanto pior, melhor.

Melhor para quem, PMBD?