Por André Castelo Torres (*) Mario Henrique Simonsen foi, ao lado de Celso Furtado, o mais importante economista brasileiro do séc.

XX.

Tenho duas lembranças dele, afora a obra canônica, Macroeconomia: a primeira, quando de sua morte, após o consumo de 80 mil cigarros, segundo cálculo dele próprio, do relato de um ex-aluno seu de doutorado: “Pedi ao professor Simonsen para me ensinar a teoria da relatividade.

Ele topou; falou, vou oferecer a cadeira eletiva de tópicos de macroeconomia 4, e ensino para vocês!”.

A segunda lembrança é da leitura de um artigo dele sobre música clássica para a Veja.

Lá para as tantas, Simonsen acusa o rock de ficar tal qual uma roda de candomblé: rodando, rodando sem sair dali.

A questão é que o grande economista não entendeu o espírito da coisa.

O professor Nietzsche foi mais certeiro, quando após tanto se revoltar contra o viés barroco que Wagner tomou, decidiu: “Para mim, bastam dois acordes!”.

Uma pena que estes dois acordes viriam apenas 60 anos depois do desaparecimento do filósofo alemão.

O yeah, yeah, yeah dos Beatles é a versão musical do Sim à vida que Nietzsche tanto quis afirmar.

Seja o “yeah”, seja o “come on”, o filósofo alemão merecia ter escutado aquilo tudo.

Nós outros tivemos melhor sorte, e a obra dos 4 de Liverpool está aê para todos.

Muito se especulou sobre os motivos do assassinato de Lennon.

Mas o óbvio agora vem à tona: o beatle pagou um preço muito alto por sua inocência.

Lennon, ao lado de Picasso e Dali, foi o maior artista do século XX; e nesta condição não poderia viver como um simples cidadão de classe média alta em NY.

Passeando pelo Central Park, sem seguranças!

Pois é neste tipo de brecha que o povinho aproveita para fazer sua farra.

A infinita inocência do espírito nobre aqui encontra seu fiel antagonista; a criatividade do espírito livre é contrabalanceada pelo cálculo de formiga do povinho ressentido.

E por mais bovino que o povinho seja, nestes casos ele não perdoa; pois é só assim que o piolho caolho entra para a história. (*) Mestre em Economia e Filosofia é professor universitário.