Por Fernando Castilho do JC Negócios Especial para o Blog de Jamildo Imagine o SBT sem o Silvio Santos; o Magazine Luiza, sem a Luiza Helena Trajano e a rede de farmácias Pague Menos, sem o Deusmar Queiroz?

Com a falta do estrategista, funciona sem grandes problemas porque a empresa é maior que eles.

Mas, com o BTG Pactual isso não acontece.

Ou essa teoria terá que ser provada a partir de hoje, quando começa a atuar sem o seu comandante.

Não existe o BTG Pactual de André Esteves, o BTG Pactual é André Esteves.

Não é caso de um executivo workaholic, que na expressão em inglês significa alguém viciado em trabalho.

Esteves é o exemplo máximo no Brasil, da geração de meninos brilhantes que, simplesmente, decidiu usar sua formação de engenheiro ou de ciência da computação para ficar rico em curto prazo e ter poder em menor tempo ainda, passando por cima de todas as recomendações acadêmicas de administração em finanças.

Por isso é difícil imaginar o banco sem ele.

Ou, como o mercado vai olhar sua ex-boutique financeira hoje, gestora de mais de R$ 300 bilhões em ativos.

A prisão de Esteves para o mercado é um negócio tão inimaginável quanto um título do tesouro americano não ser pago pelo valor de face.

Ele não estava relacionado à Lava Jato, embora estivesse sempre próximo do poder e de Lula, como esteve próximo de FHC até pelos amigos comuns que tem nos governos do PSDB.

Estava do outro lado do balcão ajudando a empresas como Queiroz Galvão, Odebrecht e Camargo Correa a vender os ativos bons pela credibilidade e acesso internacional que possui.

Na mesa de trabalho desta semana estava a operação de busca de um comprador para a OI.

A sua prisão, nesta quarta-feira, quer dizer que a partir de hoje nenhum executivo do BTG Pactual tem poder de avançar em nenhuma dessas conversas.

Não rola.

Assim como não rolou já nesta quarta-feira quando o Pérsio Arida simplesmente leu a apresentação que Esteves faria para um grupo de investidores.

Eles até foram gentis e educados com um dos pais do Real em não fazer perguntas difíceis a Arida, por saberem que ele não tem como responder sobre o futuro.

Mas, relataram a seus superiores que a vida segue.

Ou, que significa dizer: quem é mesmo aquele banco que está querendo os nossos mandatos de gestão financeira?

Assim como na política, no mercado financeiro não existe vácuo de poder.

Existem oportunidades.

Isso quer dizer que, desde a madrugada desta quinta-feira, os contatos de instituições financeiras ao redor do mundo estão cuidando de esquadrinhar os ativos do BTG Pactual e quem são os detentores de mandatos de ativos.

Funciona assim: os investidores aflitos e sem notícias de Esteves vão procurar saber dos executivos como vão ficar seus dinheiros?

Eles vão dizer que nada muda e que tudo segue.

Mas, os investidores vão querer saber quando o Esteves volta.

E aí eles não vão poder dizer nada.

Ou, que o jurídico está tratando disso.

E aí a conversa para.

Não há hoje, quinta-feira, expectativa de que o banqueiro seja libertado.

Salvo se o juiz Sérgio Moro autorizar.

Nenhum juiz, desembargador ou ministro vai querer botar no currículo a decisão de soltar André Esteves.

E se o fizer, a Procuradoria do MPF vai recorrer a alguém de cima e manterá a prisão.

Prender o Esteves é importante para a Lava Jato.

Ele será o referencial no setor bancário.

Como o Marcelo Odebrecht é hoje no setor de empreiteiros e Delcidio Amaral virou no segmento político.

O voto da ministra Carmem Lúcia é balizador pela dureza.

Até porque em setembro ela será a presidente do STF no lugar de Ricardo Lewandowski.

Dito de outra forma: para quem perdeu um senador no exercício do mandato, manter um banqueiro que teria ajudado a armar uma operação para atrapalhar investigações da Policia Federal é nada.

O problema é que o banco de Esteves é muito grande e cobiçado pela concorrência internacional que opera com ele em várias frentes.

Todos os gigantes (Itaú, Bradesco, Santander Safra e os públicos BB e Caixa) tem operações de porte com o BTG Pactual de André Esteves.

Eles também perderão oportunidades e até podem ter prejuízos em operações.

Porque sem Esteves na ponte de comando é como ver um Titanic sem perceber um metro à sua frente num mar gelado.

E gigantes como Goldman Sachs e BlackRock também estarão de olho nos ativos do BTG Pactual.

A grande pergunta do mercado é como será a vida da instituição daqui para frente?

Mesmo com Esteves de volta à ponte de comando, serão dias difíceis.

Nesse negócio de banco a confiança e a credibilidade são fundamentais.

Nesse negócio, das instalações e secretárias bonitas que falam quatro idiomas, assessores com ternos bem cortados e jovens financistas brilhantes, com seguranças e motoristas de terno e óculos pretos, tudo é pensando para dar credibilidade e segurança ao possível investidor.

Quem já entrou numa dessas salas pode observar a paixão do banqueiro por obra de arte e ações de filantropia ou instituições de assistência social de referência.

Tudo é feito para passar ideia de credibilidade secular.

E nisso não inclui uma prisão em flagrante dentro de uma operação como a Lava a Jato. É básico.

Imagina com o dono, o líder, o self-made man preso na carceragem de Curitiba?

A história de André Esteves é uma história de agressividade brutal com a concorrência e com executivos de experiência.

O garoto classe média, filho único de professora universitária, formado em Ciência da Computação e que entrou no Banco Pactual para virar banqueiro em menos de uma década, deixou marcas.

O mercado não perdoa.

Como nos filmes Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme e Poder é Cobiça.

O mercado que não perdoou o personagem Gordon Gekko, vivido por Michael Douglas, não tem a tradição de perdoar pessoas como André Esteves.

Vai ser cruel com ele, como foi com todos os demais.

Por isso será difícil para um dos homens mais ricos do Brasil e que em menos de vinte anos fez história.

Ele terá a partir de hoje um novo parágrafo na sua biografia da Wikipédia, a enciclopédia eletrônica: “Em 25 de novembro de 2015, foi preso pela Policia Federal quando estava em sua residência, no Rio de Janeiro.

A sua prisão foi decretada temporariamente já que, de acordo com as investigações, seu nome está ligado a inquéritos no âmbito da Lava a Jato que tramitam no STF”.

Para quem vive de confiança.

Essa não é uma boa nota na biografia.