Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo A sabedoria popular diz que chapéu de otário é marreta.

A oposição no Brasil, com o PSDB e o DEM no meio, tem uma extraordinária tendência para ser otários.

Se a gente olhar na história recente, desde que o PT assumiu o governo, a gente percebe que a oposição sempre foi engrupida pela situação.

Talvez porque o PSDB que, em tese lidera a oposição, não entenda nada de prática social.

O PSDB é ruim de perceber malandragem.

Funciona academicamente.

Coisa de menino criado em apartamento.

Anda sempre calçado com laço amarradinho, camisa polo e cabelo penteado.

Você conhece alguém do PSDB que tomou banho de rio nu?

Que pegou uma briga na rua, saiu na porrada e com o dente quebrado?

E acampar com uma turma da pesada na universidade?

O PSDB foi engrupido quando Lula estava no fundo poço no Mensalão.

Os teóricos do partido vaticinaram um futuro previsível aos olhos das análises sociais: O presidente sangraria até que morreria de inanição política.

Era só esperar e retomar o poder na eleição seguinte.

Conversa.

Lula se recuperou e comeu o PSDB de coco.

Lula, que é do ramo, fez o que quem conhece de sindicato faz.

Alguém já viu uma diretoria de sindicato ser contestada pelo Conselho Fiscal?

Alguém já viu presidente de sindicato perder eleição com apoio da base?

E por que isso?

Porque conversa, articula, cede e faz o que tem que ser feito “pela causa”.

Pois bem.

O PSDB perdeu a eleição e ficou feito menino buchudo esperneando.

Logo ele que se orgulhava da legalidade começou a achar que o Brasil era uma republiqueta de banana e podia derrubar uma presidente com quase 50 milhões de votos no grito.

Achou que era só fazer um movimento e que o resto do Congresso iria entrar nessa.

O PSDB tem exatos 54 deputados e seu braço à direita, o DEM, tem 21.

E aí, o que eles fizeram?

Se juntaram com o Eduardo Cunha!

Deu no que deu: Se a gente olha um pouco para trás, verá que o PSDB nunca sentou na mesa com Cunha nem para dividir um sanduíche.

Todos os caciques do PSDB e da oposição sabem do que Cunha é capaz.

Ele não havia sido denunciado, mas todo mundo sabia que era inevitável.

Bastava olhar a evolução do patrimônio de Cunha e como ele ajudou deputados.

Mas, o PSDB, o DEM e um monte de gente da esquerda achou que poderia se aliar a Cunha.

E o motivo era o mais abjeto: para derrubar Dilma, valeria a pena eleger Cunha presidente da Câmara.

Esqueceram que junto com ele vinha o Baixo Clero, o sub-Clero, e o resto do Congresso.

E aí, foram todos para uma linha auxiliar de Cunha. É isso o que a gente constata hoje.

A oposição virou linha auxiliar de Cunha por quase um ano.

Em nome de um sonho de derrubar Dilma, no grito, toda a oposição abriu mão de princípios, história, programa de partido e a dignidade para que Cunha abrisse um processo de impeachment contra Dilma.

E o mais incrível: achando que o pessoal do governo ia ficar parado.

Deu no que deu: Cunha, mais sujo do pau de galinheiro, foi aprovando tudo que ia aparecendo, fazendo a oposição se melar de lama política, desmoralizando-se perante seus eleitores e perdendo poder político com a promessa de Cunha abrir um processo contra Dilma.

A bem da verdade, não fosse a Polícia Federal, o Ministério Público do Brasil e da Suíça, o PSDB, o DEM e a oposição ainda estavam confiando em Cunha.

Só agora que eles estão vendo o que todo mundo dizia que ele faria: jogo duplo.

Pode parecer coisa de torcedor de time de série B que acha que a Série A é o paraíso para clube liso, mas alguém achava que Cunha não iria usar o cargo para tentar negociar uma saída?

Ou ao menos uma saída que lhe desse sobrevida para ficar no cargo e no mandato?

E aqui para nós: O PSDB, o DEM e a oposição têm o que para oferecer a Cunha?

Agora pense bem: dá para comparar o poder de fogo de Dilma, de Lula e do PT e do governo com o da oposição?

Ela oferece o que de futuro a Cunha?

Alguém acha que o time que conhece tudo de malandragem de rua e de movimento sindical e social e que fala a mesma linguagem do baixo clero no Congresso iria ficar esperando a Massaranduba do tempo?

Só a oposição, especialmente, o PSDB para acreditar nisso.

E o que Cunha fez?

Foi conversando, jogando para sua plateia interna do Congresso (que não confia no PSDB, DEM e dos partidos de esquerda para nada) até que caiu na real.

E viu que Cunha não é confiável, que está fazendo jogo duplo e que perdeu as condições de presidir a Câmara.

Ué?

Mas, agora?

Depois que a Polícia Federal mostrou extratos?

Depois que ele manobra no Conselho de Ética e que atua nos bastidores para inviabilizar qualquer ação contra ele na Justiça?

A cena da oposição sentindo-se traída só não é mais ridícula do que a de Cunha dizendo que “não é comigo”.

Ou de Lula dizendo que foi ela quem emparedou Dilma no segundo mandato.

Pode? É uma situação muito ruim para todos nós.

Mas serve para ajudar a gente entender porque o país não está nas ruas e não fecha com a ideia do Impeachment. É, talvez por isso mesmo que o desânimo se instalou no coração do cidadão.

O país indignado com o PT, com Dilma, com Cunha e com a Lava Jato olha, olha e não vê ninguém.

A Polícia Federal, o Poder Judiciário, o TCU, o TCE e o STF ajudaram muito a criar as condições de uma atitude mais dura com Dilma.

Mas, a oposição foi quem falhou como alternativa.

O previsível era o governo e o PT fazer o que fizeram e o que estão fazendo para se manter.

Fazem a parte deles.

O que não é admissível é a oposição fazer o que fez.

Depois de perder a eleição a oposição brasileira preferiu juntar-se a Cunha e perdeu o respeito e a compostura como ente político.

Perdeu a capacidade de dar ao país uma perspectiva.

Isso é que é preocupante.