Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife No conclave nacional promovido pela Fundação Ulysses Guimarães, muitos esperavam o deslocamento do PMDB da aliança com o PT e, assim, consumasse um facha no governo.

Hoje o noticiário continua centrado numa suposta travessia do PMDB, de aliado a oposicionista.

Um repórter da Globo avalia que “o distanciamento começará nas eleições municipais de 2016”.

Bobagem.

Eleições municipais nunca serviram para definir o desenho das alianças em plano nacional.

São um fenômeno tipicamente local.

De outra parte, quase nenhuma referência ao documento apresentado, na ocasião, que expressa a opinião dos peemedebistas sobre a atual situação nacional e indica propostas.

O texto da Fundação Ulysses Guimarães tem foco na questão fiscal, como algo para agora e para os desdobramentos futuros.

Destaca: fim das vinculações constitucionais relativas a gastos com saúde e educação; orçamento impositivo; fim da indexação de salários e benefícios da Previdência; fim do regime de partilha na exploração do Pré-Sal e acordos comerciais com os Estados Unidos, a Europa e países asiáticos, à margem dos nossos compromissos com o Mercosul.

Liberalismo acentuado.

Demais, flexibilização dos diretos dos trabalhadores e porta aberta às nefastas políticas de arrocho salarial.

Uma pequena amostra de que o caminho solo não se apresentaria nada confortável.

Enfrentaria forte resistência dos movimentos sociais e ainda teria, de quebra, que disputar com o PSDB a hegemonia na defesa dos postulados neoliberais.

Uma derrapagem à direita, discrepante da aliança à esquerda, que o credenciou a partilhar o governo central com o PT, concertada desde Lula.

Nada de anormal, contudo.

Postura tipicamente centrista, lugar ocupado pelo partido de Ulysses Guimarães desde que superada a ditadura militar.

Esteve com Collor e Fernando Henrique.

E também com Lula e agora com Dilma.

Compreensível também que hoje se apresente dividido entre defensores da aliança com o PT e oposicionistas – o que se reflete no comportamento de suas heterogêneas bancadas no Senado e na Câmara.

Assim mesmo, nas atuais condições, tamanha a força numérica da representação peemedebista, não se governa sem o seu apoio.

Uma contingência do que se passou chamar de “presidencialismo de coalizão”, novo rótulo para algo existente desde a democratização pós-Estado Novo e retomado quando findada a ditadura militar.