Meia-noite em Paris Por José Luiz Gomes (Cientista Político) Os últimos ataques de integrantes do Estado Islâmico em território francês resultaram na morte de 152 inocentes, chacinados em locais de grande concentração de pessoas.

A maioria dessas mortes ocorreram numa boate, a Bataclan, uma conhecida casa de shows parisiense.

A palavra mais apropriada para descrever os conflitos entres as potências ocidentais e o Estado Islâmico, talvez seja mesmo “cinismo”.

E o Ocidente, infelizmente, ainda irá pagar muito caro por esse cinismo, pois enfrenta uma batalha com um inimigo muito difícil de combater; cujos integrantes agem sem o menor remorso; estão dispostos a morrer pela “causa”; podem agir de forma coordenada, mas também agem por impulso individual, sobretudo nas repúblicas ocidentais. É muito difícil combater um inimigo com essas características.

Há alguns anos atrás, dois jovens-bomba cometeram um grande atentado ali na região do Oriente Médio.

Foram centenas de mortos.

Um jornalista teve o cuidado de investigar a vida desses dois jovens, na realidade, um casal.

Ambos estavam de “casamento” marcado.

A possibilidade de uma ocorrência dessa natureza, no contexto do valores ocidentais, seriam remotas.

Dificilmente algum de nossos jovens deixariam de “se casar” para se “explodir”.

Logo em seguida aos atentados em Paris, o presidente francês, François Hollande, declarou guerra ao Estado Islâmico, iniciando os ataques aos seus redutos na Síria.

O contraditório é que, até bem pouco tempo, a França, em apoio à estratégia americana na região, forneceu armas ao insurgente Estado Islâmico.

Qual a origem do Estado Islâmico? na realidade, o Estado Islâmico é uma franquia rebelde da organização terrorista Al-Qaeda, criada por Osama Bin Laden. É consequência direta dos enormes equívocos cometidos pelas potências ocidentais naquela região, como a Guerra do Iraque, que dizimou milhares de civis.

De certa forma, ali foram plantadas as bases militares e políticas do que mais tarde se constituiria no Estado Islâmico.

Os principais financiadores desse grupo são as monarquias árabes favoráveis aos Estado Unidos.

Acompanhado a repercussão desse episódio pelas redes sociais, tornaram-se comuns a expressão “quem planta vento, colhe tempestade”, numa alusão ao fato de que as repúblicas ocidentais estão colhendo o que plantaram, desejando impor sua cultura civilizatória àquela região; cobiçando o seu petróleo; armando rebeldes consoantes interesses estratégicos pontuais; plantando mentiras, como as tais armas químicas do Iraque.

Os Estados Unidos também armaram os rebeldes da Al-Qaeda, num momento em que era interessante expulsar a antiga União Soviética daquele território.

A grande questão é que essa política insana das potências ocidentais para a região estão trazendo enormes prejuízos para as pessoas inocentes, seja de lá, seja de cá.

O Estado Islâmico já provou sua capacidade de ações fora do seu território geográfico específico.

Isso significa que mais ataques poderão ocorrer em países europeus, como retaliação, conforme eles já prometeram.

A guerra aberta no território do inimigo, significará, igualmente, milhares de refugiados procurando abrigo na Europa, com as consequências já conhecidas.

Ou seja, uma possível sequência de carnificinas, de proporções imprevisíveis, que poderiam ser evitadas, caso o objetivo fosse, de fato, a paz.