Na terça-feira o Congresso votará os vetos da doutora, demarcando sua posição diante da plataforma da desordem Por Elio Gaspari, no Globo Uma greve de caminhoneiros pedindo a saída da presidente da República não é uma greve, nem é de caminhoneiros, mas apenas de alguns donos ou motoristas de caminhões que resolvem obstruir estradas.
Se fosse greve de caminhoneiros, os veículos ficariam nas garagens. É apenas bagunça.
Na hora em que a Receita Federal põe no ar um sistema bichado e ameaça multar suas vítimas caso não cumprissem um prazo maluco, não houve problemas na montagem do sistema.
O que houve foi onipotência, pois o programa foi ao ar bichado porque o Serpro, que trabalhava na sua montagem, teve uma greve por tempo indeterminado que durou 29 dias. (Com pagamento dos dias parados, negociando-se a reposição das horas perdidas.) Bagunça.
Recessão, desemprego e inflação ameaçam a vida dos brasileiros, mas são fenômenos que não têm identidade física.
A doutora Dilma, por exemplo, diz que não é responsável por nenhuma dessas ruínas.
A bagunça, diferentemente das outras pragas, tem sempre nome e sobrenome.
Falando em nome do Comando Nacional do Transporte, o cidadão Ivar Schmidt diz que só negocia “com o próximo governante”.
Administradores ineptos, bem como provocadores, são riscos da vida.
Pela lógica, uns deveriam ser demitidos e os outros, responsabilizados criminalmente.
Se isso não acontece, é porque a bagunça vai além da inépcia e das provocações.
O Congresso não precisa aderir à desordem.
Vive uma triste fase, com os presidentes do Senado e da Câmara respondendo a inquéritos na Justiça, mas nem isso justifica que os plenários das duas Casas entrem num estágio superior ao do “quanto pior melhor”.
Nessa linha, pode-se apenas torcer para que as coisas piorem.
No estágio seguinte, trata-se de piorar o que já está muito ruim.
O senador Renan Calheiros anunciou que na próxima terça-feira votará pelo menos oito vetos da doutora Dilma.
Três deles poderão custar R$ 63,2 bilhões ao Erário até 2019.
Um dos projetos vetados aumenta os servidores do Judiciário e custará R$ 36,2 bilhões.
Outro concedeu aos professores o direito de descontar do Imposto de Renda as suas despesas na compra de livros.
Poderá custar R$ 16 bilhões.
O terceiro atrela os benefícios da Previdência aos índices de aumento do salário-mínimo.
Cada uma dessas reivindicações tem seus defensores, mas a realidade é que os servidores do Judiciário estão empregados, os professores compram livros sem desconto no Imposto de Renda há décadas e os benefícios da Previdência nunca estiveram atrelados ao salário-mínino.
Deveriam estar, mas, com a ruína econômica nas ruas, o cofre da Viúva não aguenta tantas pancadas.
Derrubar qualquer desses vetos nada tem a ver com a construção de uma sociedade melhor.
Relacionam-se apenas com a radicalização da bagunça, na expectativa de que ela derrube o governo.
Afinal, só o fim do mundo pode salvar os réus da Lava- Jato e garantir o mandato de Eduardo Cunha.
A oposição tucana comporta-se com uma astúcia infantil.
Apoia a Lava-Jato com adjetivos, e só.
Faz a mesma coisa com Eduardo Cunha.
Veste a toga dos senadores romanos quando fala e a máscara dos black blocs quando se move no Congresso.
São todos muito bem educados e sabem fazer contas.
Infelizmente, flertam em silêncio com a bagunça.
Elio Gaspari é jornalista