Foto: Valter Campanato/Agência Brasil O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reconheceu sua ligação com as contas suspeitas de terem recursos desviados da Petrobras nesta sexta-feira (6).
De acordo com informações da Folha de S.Paulo, Cunha afirmou que todo todo o dinheiro tem origem lícita, fruto de negócios que teria feito antes de entrar na vida pública, entre elas a venda de carne enlatada para o exterior e investimentos em ações. “Não tenho falha nenhuma”, afirma. " Segundo ele, sua atuação no setor privado rendeu lucro entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões em dois anos. “[Tem] gente dizendo que tenho bilhão de dólar, que sou milhardário.
Se você trabalha 48 meses e consegue obter com operações de lucro este montante, não é nada de mais.
Fazendo a coisa correta, óbvio.” Sobre o 1,3 milhão de francos suíços que, segundo o Ministério Público, é fruto de desvio da Petrobras e que caiu em uma das suas contas, Cunha diz que desconhecia sua origem, admite que ficou sabendo do depósito em 2012 e que deixou o dinheiro parado todos esses anos, aguardando alguém reclamá-lo.
Cunha tentará convencer seus pares no Conselho de Ética de que não mentiu quando negou à CPI da Petrobras, em março, ter “qualquer tipo de conta” fora do país.
Seu argumento é que o dinheiro era movimentado por “trusts”, entidades jurídicas organizadas para adminisdtrar seu patrimônio no exterior.
Mesmo sendo investidor e beneficiário dos “trusts”, ele diz que não é seu dono. * Folha - O sr. disse que não tem conta no exterior, mas o Ministério Público da Suíça o aponta como beneficiário de três contas, sendo uma quarta de sua mulher.
O sr. mentiu?
Eduardo Cunha - Não tenho conta não declarada e não tenho empresa offshore, não sou acionista, cotista.
Tenho um contrato com um trust, e ele é o proprietário nominal dos ativos que existiam.
O trust é responsável pela gestão e as condições pré-contratadas.
Sou beneficiário usufrutuário em vida e os meus sucessores em morte.
Quem é o dono deste trust?
O dono é o dono da empresa, é o dono do trust, e não sou eu.
Sou apenas o contratante do trust.
Eu contratei o trust e passei os ativos, tem recursos, ações e cotas de fundos.
Não é a mesma coisa, ter conta ou recursos geridos pelo trust?
Não.
Eu não faltei com a verdade.
Eu estou sendo acusado de mentir e não menti.
Qual é a origem do dinheiro que está nas contas do trust?
Na década de 80, eu fazia atividade de comércio internacional, comprava e vendia mercadorias brasileiras ou até estrangeiras e revendia.
Onde foi criada esta empresa?
Era uma empresa de tributação favorecida.
Vendia na maioria produtos alimentares, carne enlatada era um deles.
A maior parte era vendida para países da África.
Mas onde era a sede?
Era aquele tipo de empresa, prestava contas ao fisco do local onde existia e com tributação favorecida, você pagava o imposto e acabou.
Quanto o sr. ganhou com isso?
Alguma coisa em torno de US$ 2 milhões, US$ 2,5 milhões, por aí.
Depois, em 1993, deixei a Telerj, resolvi me dedicar a operações de Bolsa, no Brasil e também lá fora de maneira diferenciada. [Tem] gente dizendo que tenho bilhão de dólar, que sou milhardário.
Se você trabalha 48 meses e consegue obter um lucro este montante, não é nada de mais.
Fazendo a coisa correta, óbvio.
Ser beneficiário do ’trust’ não é igual a ser dono do dinheiro?
Não.
Como dono eu tenho direito de utilizar da forma que eu quiser.
E eu não tinha.
O sr. abriu mão do dinheiro?
Não, mas o caso da Orion [uma das contas] é só numa sucessão, da forma como contratada, para meus filhos.
Eu não podia chegar e dizer: ‘Quero comprar uma casa, preciso de US$ 500 mil’.
Eles não davam.
Eu não tinha o livre arbítrio da utilização do dinheiro.
Sou usufrutuário.
Houve outras entradas de recursos nestas contas?
Não houve um depósito, no período que está na Suíça, a não ser a situação do [lobista] João Augusto Henriques.
O Ministério Público diz que isso foi desviado da Petrobras.
Foi tudo depositado no trust, não na minha conta.
O trust não reconheceu a entrada e nada fez com o dinheiro.
Mas nunca avisaram o sr. que o dinheiro entrou lá?
Eu não tenho este contato regular, nem tinha forma, nem tinha esta preocupação.
Mas o sr. não viu 1,3 milhão de francos-suíços na sua conta?
Não acompanho a conta, não tenho contato com o banco, não é a mim que o banco informa, informa ao trust, a mim quem tem de informar é o trust.
Quando prestou conta do balanço do ano, aí que se tomou conhecimento de recursos não identificados.
Mas entrou 1,3 milhão na sua conta e o sr. não sabe de quem?
O dinheiro não é meu, não fui eu quem coloquei.
O trust indagou sobre a origem destes recursos, para decidir se aceitaria ou não [o depósito].
Quando o sr. soube que João Henrique fizera o depósito?
Quando ele fez o depoimento na Polícia Federal.
E este dinheiro foi pagamento de um empréstimo que o sr. tinha feito anos antes para o deputado Fernando Diniz?
Do ponto de vista da suposição, não tenho como comprová-la, serve apenas para conforto de explicação, de encontrar alguma coisa, não serve para justificativa do processo.
O dinheiro não era meu, tinha um trust, não reconheceu e a prova é que o dinheiro ficou parado.
Em relação ao Fernando Diniz, de fato emprestei a ele.
Mais ou menos US$ 1 milhão.
Quando o dinheiro estava em Nova York, foi emprestado lá fora.
Porém ele morreu e o empréstimo morreu com ele.
O sr. não cobrou do filho dele?
Não quero que ninguém cobre do meu filho quando eu morrer.
O sr. errou ao não declarar o dinheiro?
Não tenho falha nenhuma.
Não entendemos que existe esta omissão, entendemos que na medida que você transferiu a propriedade para o trust e tem dez anos, você não é mais proprietário de nada.
Eu não tenho ativo.