Áudio indica que a empreiteira baiana foi acionada para custear secretamente uma obra paralisada.

Ex-sócio do então governador Eduardo Campos comparava a operação ao crédito bancário.

O aporte pode ter chegado a 100 milhões de reais O empreiteiro Eduardo Fialho, dono da Advance Construções, gravou o que descreve como uma reunião em que o governo de Pernambuco e a Odebrecht trataram dos termos para a continuação da obra do Centro Integrado de Ressocialização (CIR) de Itaquitinga .

O conteúdo está transcrito em um documento produzido pelo Tabelionato do Quinto Ofício de Notas de Salvador, segundo informou a revista “Veja”.

LEIA MAIS: » Sem prazo definido, obras do presídio de Itaquitinga devem » Governo decide extinguir PPP e assumir Penitenciária » Oposição convoca audiência para discutir paralisação A reportagem aponta que teriam participado do encontro, no dia 11 de outubro de 2013, Aldo Guedes, ex-sócio de Eduardo Campos e atualmente afastado da presidência da Companhia Pernambucana de Gás, Thiago Norões, então procurador-geral do Estado, João Pacífico Ferreira, diretor da Odebrecht, e Demerval Gusmão, dono da DAG Engenharia.

O grupo trataria com Fialho os termos da transferência do direito da obra para a DAG, pois, em 2012, a construção foi paralisada por incapacidade financeira da empreiteira Advance.

Na transcrição, João Pacífico Ferreira afirma que a Odebrecht participava das discussões para atender a um pedido direto do governador Eduardo Campos ao presidente da empresa, Marcelo Odebrecht. » Após operação da Lava Jato no Recife, Aldo Guedes pede afastamento da Copergás » Com afastamento de Aldo Guedes, Décio Padilha assume » PF apreende dinheiro e computadores na Refinaria Abreu e Lima Por decisão do conselho da Odebrecht, porém, a participação não poderia ser pública. “Fomos demandados pra ajudar numa solução, por isso que a Odebrecht não aparece, porque não podemos”, disse o diretor da empreiteira.

Ainda de acordo com a Veja, sem saber que estava sendo gravado, Ferreira fala em aportes financeiros secretos realizados pela Odebrecht para ajudar na realização da obra do presídio. “O Grupo Odebrecht tá dando ao Es… (inaudível) é como que diria é… liberando para ele, com o aval do Estado.

Porque nós não podemos participar né.

Não temos condições.

Um valor X que no nosso entendimento dá para terminar.

Terminar a obra, estes três pavilhões, de alguma forma fazer” (…) “Ou seja, em síntese, o que é que nós temos.

Só que nós tamos limitando a um cheque especial que é este que tem o aval do Estado”.

Na gravação Aldo Guedes, revela que o governo de Pernambuco não poderia pedir mais dinheiro a ninguém e que a solução construída “a quatro mãos” com a Odebrecht foi a única saída para tocar o empreendimento. “O que a gente tá querendo dizer é o seguinte.

Nosso amigo aqui (referindo-se a Ferreira) já botou cinquenta pau, por favor, trinta, quarenta ou vinte, já botou lá pra tentar rodar isso, não rodou.

Tá vindo um outro cheque especial.

Isso tem que ter um prazo.

Ninguém bota um negócio desse de favor não”, explica Guedes, sugerindo que os 50 milhões aportados pela Odebrecht não era o primeiro dos repasses.

Guedes, que foi sócio de Eduardo Campos em uma fazenda, explica que o “cheque especial” seria suficiente para terminar os 20% que faltavam da obra: “O cheque de cinquenta milhões de reais pra terminar os três blocos e botar pra funcionar e tentar pagar alguma coisa de passivo”.

E que depois de concluída a obra, os rendimentos da PPP deveriam ser usados para pagar a empreiteira. “Esse é o limite Odebrecht, dentro disso, e esses cem ou, lá na frente, quando fizer ou entrar algum sócio ou vender, ou alguma coisa lá dentro disso, depois de auditado, se foi cem, quanto for, isso vai ter que ser revertido para eles”, diz Guedes, que dá a entender que a empreiteira pode ter entregue 100 milhões de reais secretamente para fazer um favor a Eduardo Campos, então já pré-candidato à Presidência, e, possivelmente, recebê-los de volta no futuro.

LEIA TAMBÉM: » Empresário baiano diz que responsabilidade da DAG pelo fracasso da PPP de Itaquitinga é inconteste e empresa tenta enganar a todos » Empresário baiano afastado da PPP de Itaquitinga diz que governo Paulo Câmara mente e não tem como pedir mais seguro milionário por obra parada » Em nota, empresário baiano volta a denunciar manobra política de socialistas na PPP de Itaquitinga O presídio de 104.000 metros quadrados teria 15 pavilhões com capacidade para 3.500 presos com acesso a trabalho e ensino.

O então governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante a campanha presidencial do ano passado, pretendia apresentar o CIR como uma grande conquista do seu governo e um modelo a ser seguido pelo sistema prisional em todo o Brasil.

Erguida sob o sistema de parceria público-privada (PPP), a obra teria 70% dos 350 milhões de reais custeados pelo governo.

Uma disputa judicial entre a Advance e a empresa que o governo de Pernambuco escalou para substituí-la na realização do consórcio revela a mão oculta da Odebrecht na construção do presídio.

De acordo com a reportagem, a Odebrecht foi procurada pela Veja, mas negou, por meio de nota, que tenha realizado qualquer desembolso no projeto.

A assessoria da empreiteira disse ser “natural” o governo convidar a Construtora Norberto Odebrecht para buscar uma solução para obra.

Já o governo de Pernambuco diz desconhecer qualquer pagamento da Odebrecht para a obra do CIR e nega a existência do chamado “cheque especial” .