Foto: divulgação Por Elias Gomes, prefeito de Jaboatão dos Guararapes - PE Pouquíssimos chefes de governo tiveram tantas chances de dar a volta por cima em momentos de grave crise como a nossa quase ex-presidente Dilma Rousseff.
O segundo governo Dilma agoniza desde antes da posse, em janeiro deste ano.
Perdida nas armadilhas (algumas das quais ajudou a criar), sem rumo, sem direção, terceirizou o poder da forma mais explícita e escancarada.
Como uma naufraga, agarra-se aos oportunistas de plantão (os mesmos que assumiram com ela o leme da embarcação furada em que se tornou o Palácio do Planalto), mesmo sabendo que o peso com o qual se abraça somente levará à submersão de um governo moribundo.
Hoje o condomínio ou loteamento do poder se distribui sem nenhum critério entre o PT, PMDB e meia dúzia de siglas também fisiológicas ou que apóiam a meia boca o meio governo.
Exemplo disso está no PDT, que apóia e continuará apoiando pela metade um governo que não governa, além do PTB que, rachado, vai à televisão sistematicamente questionar de forma radical o governo que integra.
Como vai " funcionar " este governo?
Os petistas ligados ao ex-presidente Lula, que reassumiu o poder, se reportarão a ele como ocupantes de ministérios estratégicos como a Casa Civil e Governo que comandarão a área política.
Por outro lado, o PMDB (velho como nunca de guerra) amplia o seu espaço na esplanada, agora ocupando dentre outros o Ministério da Saúde, posto irresponsavelmente no ‘balcão’ moeda de troca, numa hora em que a saúde no Brasil agoniza e exigiria um tratamento de choque para tirá-la da UTI.
Em vez disso é entregue à indigência da política do poder pelo poder.
A quem se dirigirão os ministros peemedebistas?
A Dilma?
Claro que não!
Irão ao Palácio do Jaburu (onde despacha o vice-presidente Michel Temer) e aos gabinetes de suas excelências Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados) que faz um jogo cretino de ter rompido com o governo e autorizar secretamente a negociação de cargos; de Renan Calheiros (presidente do Senado) e a outros de menor patente, mas comandam o desfigurado PMDB. É aí que estará o centro de decisão, o orçamento e o destino do país.
Nem na economia Dilma, que costumava dar as cartas, manda mais.
O ministro da Fazenda Joaquim Levy, que não tem apoio do PT e nem de Lula, obedece a outras ordens.
Que governo é este?
Quanto à reforma, não se pode honestamente assim chamar este remendo em tecido velho e esgarçado.
Foi na verdade um ‘arrumadinho’ que vai apenas talvez retardar um pouco o agravamento (ainda mais) da crise política e que não resolve a crise econômica e ética, esta ainda mais comprometida com esta velha e surrada forma de fazer política.
Vamos ao conteúdo da reforma.
O número de ministérios mantidos só se justifica pela mera necessidade de se distribuir escancaradamente os cargos.
Vamos falar dos ministérios dos Transportes, Aviação Civil e Portos, que não são outra coisa senão transporte ( terrestre, aéreo e marítimo e nessa lógica faltou criar o Ministério Ferroviario).
Não, não é engraçado!
Na área do desenvolvimento econômico temos o Ministério do Desenvolvimento e Comercio Exterior, o Ministério do Turismo e outros.
Ora, Turismo é ou não uma atividade econômica?
Porque não se fundiu e se fortaleceu órgãos como a Embratur, profissionalizando a sua gestão?
A resposta Todos sabemos….
Outro exemplo está no Ministério da Cidadania.
Porque se criar esse ministério se cidadania é mais educação, saúde, cultura, mais oportunidades com a efetivação de direitos e consciência dos deveres?
Bastaria se fortalecer o Ministério da Justiça que englobaria todas estas áreas e reforçar as políticas de gênero, dos direitos humanos e da igualdade racial.
Simples.
Concluo dizendo que a presidente está desfigurando a sua biografia de revolucionária que resistiu à ditadura e à tortura, mas que se rende ao que existe de mais reacionário e fisiológico, o que representa a negação da sua história.
Dilma poderia ter sim liderado uma mudança de verdade.
E aí peço preciso reiterar o que tenho dito desde o dia 20 de dezembro do ano passado, quando me dirigi a líderes nacionais governistas como Humberto Costa, então líder do Governo no Senado, e a líderes oposicionistas alertando que em razão do prenúncio do envelhecimento do ainda não-nascido segundo governo Dilma, ela deveria chamar a nação e as forças políticas do país e construir um entendimento e um governo de união nacional, oferecendo ao país ameaçado e dividido, a antecipação das eleições para 2016 ( está escrito e Humberto é minha testemunha), mas nada disso aconteceu.
Recentemente, impacientado com o agravamento da crise, levei à opinião pública uma outra proposta: Dilma instituiria uma reforma do Sistema de Governo com o Parlamentarismo e se manteria como Chefe de Estado até 2018, quando terminaria o seu mandato, e entregaria a chefia do governo a um primeiro-ministro que lideraria um governo de coalizão para enfrentar a crise, o que se diferencia deste engendramento que se operou.
Minha convicção é de que sem uma mudança profunda somente assistiremos o adiamento de uma crise ainda mais profunda, pois este modelo exauriu-se.