O juiz Sérgio Moro, de Curitiba, responsável pelas ações da Operação Lava Jato, disse hoje em São Paulo, em resposta a um questionamento do Wall Street Journal, em seminário do LIDE São Paulo, que não gostaria de comentar a decisão do STF, fatiando parte dos processos relacionados ao caso.

Apesar da objeção, na palestra, Moro não aliviou. “A celebração de um contrato público envolve um valor quase naturalizado de propina.

A corrupção é sistêmica” “Um povo que aceita o pagamento de propina é um povo sem dignidade”, afirmou.

O magistrado fez uma apresentação no LIDE São Paulo, a convite do empresário João Dória Jr.

O título da apresentação é Lições da operação Mãos Limpas.

De Pernambuco, um dos participantes do encontro é o ex-governador João Lyra, ao lado do jornalista Drayton Nejain.

No evento, o juiz disse que a responsabilidade do Judiciário era mudar essa realidade, de corrupção sistêmica e leniência da sociedade.

Nesta quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu “fatiar” um dos desdobramentos da Lava Jato, no qual foram encontrados indícios contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) com suspeitas de fraude no Ministério do Planejamento, para que o caso seja apartado das investigações do esquema de corrupção na Petrobras.

A maioria dos ministros entendeu que a investigação não deve ficar sob relatoria de Teori Zavascki, responsável pela Lava Jato na Corte, e de Sérgio Moro, juiz que conduz a Operação na primeira instância.

Com a decisão, apurações sobre a petista ficarão com o ministro Dias Toffoli (ex-advogado do PT) e a parte do caso que envolve o ex-vereador do PT Alexandre Romano, que não tem foro privilegiado, será encaminhada à Justiça de São Paulo.

Na avaliação de muitos, a decisão abre brecha para que advogados tentem tirar das mãos de Moro “braços” da Lava Jato, que não têm relação com o núcleo central do esquema originalmente investigado. É o caso das apurações sobre a Eletrobrás, por exemplo.

Questionado, ao deixar o STF, se a decisão prejudica as investigações, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pernóstico como sempre, limitou-se a parafrasear Santo Agostinho, usando uma expressão em latim para dizer que a causa está encerrada. “Roma locuta, causa finita”, disse.

Na sessão do Supremo, Janot defendeu a manutenção da investigação com Zavascki e com Moro.

De acordo com ele, a Procuradoria analisa uma organização com vários ramos, o que exige a concentração das ações com o mesmo magistrado que conduz a Lava Jato.