Ruy Castro, na Folha de São Paulo Todos sabemos: se você encontrar um jabuti em cima da árvore, não queira saber como ele subiu até lá –foi alguém que o colocou.

E por que alguém colocaria um jabuti em cima da árvore?

Para preencher um tempo morto, já que um jabuti em cima da árvore não serve para nada.

Ou para manter a árvore ocupada até chegar a hora de tirá-lo.

Em 2011, Lula colocou Dilma em cima da árvore, contando com que ela lhe devolveria o galho em 2015.

Mas Dilma gostou do que viu lá de cima e quis continuar por mais quatro anos.

Já aconteceu mil vezes: a criatura apaixona-se por si mesma, descobre que tem vontade própria e dá uma banana para seu criador. É elementar.

Espanta que Lula não tenha previsto essa possibilidade.

Há outros espantos.

Lula vendeu Dilma como uma grande gerente, uma executiva, uma administradora.

Hoje sabemos que é exatamente o que ela não é –seu governo ficará como o mais incompetente da história.

Se Lula achava que Dilma fosse aquilo tudo, revelou-se péssimo avaliador de material humano.

Se sabia que ela não era, e a bancou assim mesmo, ele deve explicações ao seu pessoal.

Dizem que Lula escalou Dilma como sua sucessora porque Dirceu e Palocci foram abatidos no mensalão.

Duvido –Lula os temia porque eram espertos e ambiciosos demais, poderiam crescer e engoli-lo.

O ideal para Lula era mesmo Dilma, que o PT não queria, mas teve de digerir.

Essa é uma característica do grande líder: quando ele erra, obriga todo mundo a errar com ele.

Lula deve ter vendido Dilma como dócil, maternal e obediente.

Ela se revelou voluntarista, grossa e incontrolável –além de politicamente desastrosa.

Como se pode errar tanto?

Lula pôs o jabuti em cima da árvore.

Isso é comum na política.

Mas errou de árvore ou errou de jabuti.

Em compensação, acertou um tiro no pé.