Por Anna Tiago, repórter do Blog “Nunca desisti e nem vou desistir até meu último suspiro.” Há 44 anos, Amparo Araújo luta por informações a respeito do irmão, Luiz Almeida Araújo, e do marido, Tomás Antônio da Silva Meireles Neto, desaparecidos em 1971 e 1974, respectivamente.

O sentimento de perseverança dela é compartilhado por centenas de pessoas que também não têm informações do paradeiro de entes queridos desde o período da ditadura, que se estendeu de 1964 a 1985.

Anos se passaram, mas a angústia e um fiozinho de esperança permanecem. “Depois de 40 anos da morte do meu irmão, ainda me surpreendo quando vejo alguém parecido com ele na rua, acho que é ele. É uma morte inacabada”, lamenta Amparo, fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco (MTNM/PE).

Além de estar à frente da organização que defende os direitos humanos, ela participou, até o início do ano, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, que reúne membros governamentais e famílias de todo o País que estão em busca de uma resposta. “Faz parte da cultura cristã saber onde o parente está enterrado, então é uma luta que a gente nunca vai parar de fazer”, garante. > Leia também: - Caso Núria reacende debate sobre desaparecidos - Desaparecidos encontrados podem sofrer com superexposição na internet - Os nove passos do que se deve fazer em caso de desaparecimento No Brasil, oficialmente, há 180 casos de desaparecidos políticos, de acordo com o coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ivan Seixas.

Ele explica que a Comissão de Familiares existe desde a época da ditadura. “Muitas pessoas sumiam, e os familiares iam para a porta dos quartéis e delegacias, esperando localizá- las.

Essas famílias acabaram se organizando e firmaram um compromisso de procurar juntos, trocando informações”, diz.

O coordenador também faz parte dessa luta.

Aos 16 anos, foi preso e torturado pelo regime militar e ficou preso por seis anos com pessoas que desapareceram, inclusive o pernambucano Edgar Aquino Duarte. “Depois que saí da prisão, me integrei à luta dos familiares.

Meu pai foi morto e enterrado, mas os outros companheiros são pessoas que tenho obrigação de procurar”, lembra.

Ivan já participou de várias buscas, mas sem sucesso. “É um assunto que parece não ter fim.

Com as comissões da verdade, muita coisa foi feita, mas os desaparecidos não foram localizados.

As famílias não têm sossego, e o país está sempre com a presença dos desaparecidos, que é uma coisa muito doída”, acrescenta.

PERNAMBUCO No Estado, 13 casos de desaparecimentos no período da ditadura militar são investigados pela Comissão da Verdade Dom Helder Câmara.

Criada em 2012, o trabalho da comissão envolve pesquisas em arquivos públicos e ouvida de testemunhas para auxiliar na investigação dos casos. “Temos também a colaboração dos familiares, que nos procuram, oferecem documentos pessoais e informações para tentarmos esclarecer os casos”, diz o secretário-geral da comissão, Henrique Mariano.

Entre os desaparecidos investigados, estão Fernando Santa Cruz, Eduardo Collier Filho e Humberto Câmara Neto, todos estudantes com, na época, 26 anos, e ligados à Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Os dois primeiros desapareceram no Rio de Janeiro em fevereiro de 1974 e o último desapareceu alguns meses antes, em outubro de 1973.

Recentemente, o caso de Humberto ganhou uma prova de que ele foi preso político.

Apesar de estar na lista da comissão, ainda não havia nenhuma evidência concreta sobre o que teria acontecido com ele. “Identificamos um documento que comprova que ele teria sido preso no Rio de Janeiro pelas forças da repressão. É um documento emblemático, porque comprova a responsabilidade do Estado brasileiro pela desaparecimento”, analisa o secretário. “Esses casos são bastante conhecidos, mas para nós, todos os 13 têm igual relevância, pois são desaparecidos políticos que estão contextualizados na mesma situação”, acrescenta.