Por Marco Aurélio Medeiros Há muito tempo que se discute no País a necessidade da realização de uma reforma política, com mudanças profundas e em sintonia com a expectativa da construção de um Brasil melhor para os brasileiros.
Contudo, ao contrário, assistimos a inúmeras reformas e minirreformas eleitorais que acumulam contradições, excentricidades e favorecimentos pontuais a determinados grupos.
Infelizmente, a votação de ontem (9), na Câmara Federal, observamos mais um momento como esse.
A maioria dos deputados desconsiderou os avanços conquistados no Senado e aprovou um texto vergonhoso, repleto de elementos que depõem contra a boa política.
Entre tantos absurdos, recorto a mudança do prazo para filiação partidária para as vésperas da eleição.
Antes, a Legislação previa que um postulante a cargo público deveria registrar seu ingresso em uma legenda, no mínimo, um ano antes do pleito para, desta forma, gozar das condições necessárias para a disputa eleitoral.
Esse tempo possibilitaria ao novo filiado a possibilidade de participar da vida da sigla com mais organicidade.
Agora, esse prazo foi encurtado para seis meses antes da eleição.
Ou seja, alguns partidos e agentes públicos poderão esperar até o mês de maio para obter o seu registro partidário.
Como alguém pode, em tão pouco tempo, possuir qualquer tipo de identificação com a legenda para representá-la plenamente em uma eleição?
O que ocorre, no entanto, é que determinadas agremiações, que não possuem compromisso com a boa política, contribuirão para a realização de verdadeiros leilões de postulações proporcionais e até mesmo majoritárias.
Aquele dito pré-candidato que não conseguir viabilizar uma postulação pelo seu partido poderá, a seis meses da eleição, encontrar uma guarida oportunista para representar um projeto que, muitas vezes, se resume ao mero interesse pessoal. É um retrocesso, sobretudo, quando estávamos discutindo o fortalecimento das cambaleantes instituições políticas brasileiras.
Não se pode construir um País que dialogue com os interesses de todos quando alguns poucos, que deveriam representar a maioria, não têm vergonha de reforçar a mercantilização eleitoral.
Essa falta de compromisso com o resgate das instituições partidárias pode ampliar ainda mais o fosso que separa o cidadão brasileiro dos seus representantes.
A classe política precisa olhar com mais carinho e equilíbrio para pavimentar um caminho de recuperação da imagem das legendas perante o individuo que acorda cedo todos os dias para fazer a sua parte pelo Brasil.
Os deputados que aprovaram essa aberração dão uma prova clara de que eles não olham para as pessoas como cidadãos, mas apenas como eleitores.
O curioso é que esses parlamentares sabem muito bem que o povo não é apenas um portador de voto, porém insistem em fazer essa incoerente separação.
Marco Aurélio Medeiros é vice-líder do Governo na Câmara do Recife