Por André Caúla, advogado no Recife Potências europeias intensificaram plano para realocar 120 mil refugiados que estão no continente – além de outros 40 mil anunciados em maio.

Alemanha anuncia que pode receber 500 mil anualmente, em médio prazo.

Os esforços – ressalte-se- resultam da pressão da ONU, após a divulgação de imagem que o mundo inteiro não está conseguindo esquecer. É a do corpo do garoto sírio-curdo, de três anos, em uma praia turca, afogado, fugido de sua terra de origem com a família até o Canadá.

Vítima do terror imposto pelo grupo jihadista Estado Islâmico, na Síria, que há mais de quatro anos está em guerra civil.

Aylan Kurdi, o menininho, virou símbolo da tragédia dos refugiados do Oriente Médio, mas está muito longe de ser caso isolado.

Segundo a ONU, só em 2015, pelo menos 340 mil pessoas cruzaram o Mar Mediterrâneo com destino à Europa.

A maioria dessa massa de nômades está na Itália e na Grécia.

Agora, as Nações Unidas pedem que os italianos milionários doem 15 mil euros para os refugiados – a quantia, calcula-se, ajuda dez famílias, por um ano.

Pena que só depois da fotografia de um menino branco, parecendo um anjinho na beira-mar da Turquia, é que o assunto está estampando manchetes de jornais e viralizado na redes sociais, comovendo só agora os grandes líderes.

Há poucos dias, a atriz Angelina Jolie disse no editorial do The Times, de Londres, que refugiados de guerra são diferentes dos da pobreza.

São.

E por isso mesmo não podemos nos esquecer, por exemplo, da miséria e das guerras que dizimam populações na África, só não têm audiência nem inspiram comentários no Facebook.

Parece que nem todas as mortes nos causam espanto, indignação.

Na leitura nossa dos jornais (ou portais de notícias) de cada dia, muda-se a página, mas a temática nem tanto.

A violência de que foge os que buscam paz na Europa também está aqui no Brasil, apenas mais disseminada.

São chacinas; crimes envoltos pelo véu nebuloso do tráfico; policial matando policial por discordância sobre cota racial…

Quanto vale a vida?

Uma religião, um embate de ideias, pontos de droga, a vitória de um time?

Todo o direito tem limite, que termina exatamente quando excede os limites do outro.

Não quero acreditar que nasci no tempo errado.

Prefiro crer que ainda estarei bem firme quando qualquer morte for motivo de assombro, de esforços conjuntos por mudanças.

Sinto-me pronto para combater o bom combate.