O governador Paulo Câmara voltou a defender nesta quarta-feira, em entrevista ao jornalista Milton Jung, da CBN Nacional, um grande entendimento em favor do Brasil, como forma de o País superar a crise política e a crise econômica. “Porque o momento exige que a gente trabalhe muito.

Não interessa a ninguém a situação em que o Brasil está hoje”, alertou.

Para Paulo Câmara, é uma situação que preocupa principalmente pela instabilidade e pela ausência de confiança. “A gente não está com políticas efetivas que mostrem uma luz no fim do túnel.

Esse momento de incertezas, de insegurança, é o que realmente preocupa muito os governadores e, principalmente, a população nordestina”.

CBN: Qual é o impacto da crise econômica nos estados dos Nordeste?

PAULO CÂMARA - Milton, o impacto é muito grande.

O Nordeste tem sido uma região que, nos últimos oito anos vinha crescendo mais do que o Brasil, gerando emprego e renda.

Em 2014, o Nordeste foi a região que menos sofreu com a crise.

Só que nesses primeiros meses de 2015, em virtude da crise, estamos sofrendo de maneira mais efetiva essa desaceleração e a recessão, que atingiu principalmente o emprego.

Para você ter uma ideia, nos primeiros setes meses do ano, cerca de 500 mil empregos formais desapareceram no País e o Nordeste foi responsável por quase 200 mil.

Então, é uma questão que nos preocupa demais.

Uma região pobre, uma região desigual; uma região que tem 28% da população e representa cerca de 14% do PIB.

O Nordeste vinha em um processo de recuperação, mas em 2015 tem sido um ano desafiador, por causa do desemprego, por causa da recessão.

Nós estamos também com um crescimento industrial negativo; que é o que mais nos preocupa, quando vamos para série histórica, estamos com desemprego na área do comércio e, principalmente, nos serviços, que é o grande responsável pelo PIB nordestino.

Então, é realmente uma situação que nos preocupa principalmente pela instabilidade e pela ausência de confiança.

A gente não está com políticas efetivas que mostrem uma luz no fim do túnel.

Esse momento de incertezas, de insegurança é o que realmente preocupa muito, tanto os governadores, mas principalmente a população nordestina.

CBN: Há também uma ausência de liderança no País, nesse momento, que prejudica a saída dessa crise?

PAULO CÂMARA – A questão da crise, a questão da confiança realmente são os fundamentos que precisam ser mais trabalhados.

Confiança se passa com regras claras, com planejamento, com um olhar para o futuro.

O que é que vamos fazer, o que é que vai acontecer.

Nós não temos previsibilidade nas nossas políticas, todos os dias tem uma novidade ou uma notícia que é desmentida no outro; são questões que vão e que voltam e que não têm contribuído para o debate.

Precisamos de um planejamento mais consistente, de uma política que olhe o curto, o médio e o longo prazo, que dê previsibilidade e dê tranquilidade para os investidores, para saberem que podem investir que não vai ter mudança ao longo do caminho.

E isso se transmite na confiança e na expectativa, e isso, realmente, nos remete à necessidade de um entendimento nacional, envolvendo todos os atores.

Envolve a liderança da União, envolve a participação do Estados, dos Municípios, do setor empresarial, da sociedade civil organizada, da necessidade de um grande entendimento em favor do Brasil, porque o momento exige que a gente trabalhe muito.

Não interessa a ninguém a situação em que o Brasil está hoje.

De recessão, com uma projeção de recessão em 2016 também.

Se nós pegarmos a série histórica, vamos ver que isso só aconteceu em 1930 e em 1931, um momento totalmente diferente da realidade que nós vivemos hoje.

Então, essas são questões fundamentais que nós precisam ser trabalhadas com rapidez.

CBN - Esse entendimento passa pelo fortalecimento do papel da presidente Dilma Rousseff no cargo ou o que nós temos assistido, de várias críticas,inclusive alguns movimentos pedindo o impeachment da presidente, é um caminho que tende a se desenvolver ainda mais?

PAULO CÂMARA – A presidente foi eleita.

Ela tem um mandato a cumprir.

Ela tem compromissos e tem uma série de ações que o Governo Federal precisa retomar e precisar dar continuidade, muitas delas com mais celeridade.

E isso, enseja, de todos nós, buscarmos o entendimento e fortalecer as instituições, para que elas funcionem em favor da população, que elas funcionem levando o serviço público.

Momento de crise é também momento de repensar o funcionamento das instituições, de priorização dos serviços essenciais.

De buscar fazer mais com menos.

Então, isso tudo exige, realmente, uma capacidade de articulação, planejamento, uma capacidade de liderança, de colocar a confiança para a população.

A população precisa sentir, os investidores precisam sentir que as políticas públicas vão ser cumpridas; que o que está devidamente pactuado tem previsibilidade, tem regras claras e não vai haver mudança.

Isso é fundamental. É necessário, realmente, que haja por parte de todos os entes o compromisso com o Brasil, o compromisso com a retomada da transparência, a retomada dos investimentos.

CBN- Esta retomada do crescimento, essa confiança passa pelo fortalecimento, então, da imagem da presidente, seria um fato dos governadores, por exemplo, buscar um apoio à presidente, ou não?

PAULO CÂMARA – A questão não é a presidente.

A questão é o Governo Federal transmitir e fazer políticas que tenham previsibilidade e que possam nos dar um norte; possam dizer exatamente o que vai acontecer em 2016.

Qual é a regra do jogo.

Como fazer.

Quais são os investimentos que não vão ter contingenciamento de recursos, quais são as linhas de crédito que vão ser dadas aos Estados e Municípios para que eles possam também contribuir para o investimento.

A questão é de apoiar a instituição, porque o Governo Federal é um elemento essencial para a retomada do crescimento do nosso país.