Por Fernando Castilho, do JC Negócios Homem de pouca fé a despeito de se dizer evangélico, embora seja um obstinado quanto aos seus interesses, Eduardo Cunha disse nesta sexta-feira que “Renúncia não faz parte do meu vocabulário e nunca fará”.
Fará sim.
Aquela festa que o deputado Paulinho da Força Sindical fez com sua claque profissional foi talvez sua última oportunidade de se apresentar como um político com poder.
Daqui para frente, Cunha vai provar do pior do sentimento dispensando ao político: o da indiferença que, como diz a sabedoria popular, é irmã bastarda da traição inconfessada.
Aqueles 300 deputados que lhe elegeram só para derrotar Dilma Rousseff sabem que as chances do ministro Teori Zavascki aceitar a denúncia no STF são de 100%.
E que o STF vai trucida-lo.
O STF condenou Dirceu com 0,0001% do que existe de prova contra Eduardo Cunha.
Basta ver o que está na denúncia do Rodrigo Janot.
Os policias federais sofisticaram a investigação ao ponto de saber em que (ERB) Estação de Rádio Base de companhia telefônica Cunha, Fernando Baiano e Júlio Camargo usaram para se encontrar.
Rastrearam todo o caminho do dinheiro para ser entregue a ele e ainda se deram ao trabalho de mostrar que em nome do Senhor, Cunha depositou dinheiro na conta de uma igreja evangélica.
Pergunta número um.
Será que ele acha que o pessoal da Assembleia de Deus vai ficar com ele depois da exposição do nome da congregação no noticiário policial?
Esse apoio ele já perdeu desde quinta-feira.
Mas tem mais: tem a mudança de comportamento das pessoas que ele acha que estão com ele e não estamos falando dos deputados pastores.
Denunciado, ele vai ter eu se defender.
Na medida em que fala e as pessoas lerem a denúncia verão que Cunha já era.
Se envolveu no esquema da Lava Jato e dos dinheiros das empreiteiras.
Discutiu partilha e cobrou partilhas.
E usou o cargo de deputado de prestigio no Congresso para achacar lobista e empresas.
Importa pouco os que lhe juram fidelidade agora.
Esses vão ficar até um certo momento.
O que deve lhe preocupar são os que ficaram em silêncio.
Os que dizem que ele deve ter o benefício da presunção da inocência.
O que dizem que ninguém é culpado até esgotar todas as instâncias.
Esses são os que já lhe abandonaram.
Daqui para frente eles vão ficar mais distantes, não atenderão a todos os telefonemas do presidente da Câmara.
Não vão ajudar nas sessões e, em pouco tempo, ele verá que não poderá, como presidente, agendar o que a imprensa chamou de pauta-bomba.
Começará na mesa da casa que preside.
O presidente imperador verá que já não tem o mesmo poder.
No desdobramento verá que um deputado mais afoito vai lhe jogar a denúncia na cara em rede nacional.
Outro vai dar entrada no Conselho de Ética que ele elegeu, mas que vai lhe constranger aceitando a denúncia.
Investigado, denunciado, e respondendo a um processo no STF, Cunha vai perceber que a afirmação que “renúncia não faz parte do meu vocabulário e nunca fará”, já não faz sentido.
Na solidão do abandono verá que não tem mais futuro e nem sentido ficar dizendo que não cobrou aqueles US$ 5 milhões que o Fernando Baiano não lhe entregara.
Para se preservar de alguma coisa que julgue importante para sua biografia fará o que todos os outros ex-presidentes com menos acusações que ele fizeram e mandar uma carta de apenas um parágrafo.
Foi assim com Ibsen Pinheiro, João Paulo Cunha e Severino Cavalcanti.
Porque seria diferente com Eduardo Cunha?