Foto: divulgação Por Terezinha Nunes, especial para o Blog É famosa na literatura infantil em todo o mundo a fábula do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen sobre um rei vaidoso que, enganado por um alfaiate vigarista, desfilou nu pelas ruas imaginando-se portador de uma roupa translúcida maravilhosa – como lhe confirmaram os áulicos do Palácio, também enganados - e acabou sendo desmascarado por uma criança.
Sem saber do conluio, o garoto gritou em alto e bom som- “o rei está nu” - e a festa acabou com o soberano morto de vergonha.
Como na fábula de Andersen, um rei ficou nu no Brasil durante as manifestações de domingo: o ex-presidente Lula.
Nos protestos, os mais fortes até agora pelo número de cidades participantes, uma coisa saltou aos olhos de todos: o convencimento cada vez maior da população de que o ex-presidente Lula está envolvido na operação lava jato e foi o verdadeiro chefe do esquema de corrupção que maculou o país.
Cartazes pedindo a prisão de Lula foram disputados por manifestantes no Recife, a chamada capital do Nordeste, região que até recentemente tinha o ex-presidente como um ídolo.
Em Brasília o boneco gigante de Lula vestido de presidiário chamou a atenção do país e do mundo.
Não à-toa a própria presidente Dilma – recordista de reprovação popular – perdeu para seu criador nas manifestações.
Os cartazes envolviam mesmo Lula e milhares traziam a foto dele atrás de grades.
Simples assim.
Ou porque já vejam Dilma como carta fora do baralho depois que se sitiou no Palácio e passou o leme para Temer e Renan – também atacados – ou porque decidiram deixar para lá a cerimônia, os manifestantes foram direto ao ponto.
Os “fora Lula” e “ fora PT” foram mais numerosos do que os cartazes sobre Dilma, empurrando as ruas para novos alvos mais fortes e até mais perniciosos.
Por isso, certamente, estabeleceu-se o contraponto.
Quem tem um vilão tem também um herói e o herói foi o juiz Sérgio Moro que virou boneco no Recife muito menor que o de Lula em Brasília mas não menos expressivo com sua toga e o semblante sério.
Moro acabou também enaltecido em milhares de cartazes e gritos de incentivo.
Diante do arrumadinho que se desenha em Brasília para manter Dilma no poder, Moro e a Lava Jato funcionaram como uma tábua de salvação.
A senha teria sido o aparecimento do nome do presidente no rastreamento de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e já nas mãos do juiz e as várias evidências que têm sido ventiladas pela imprensa sobre a possibilidade do ex-presidente vir a ser convocado pela justiça ou mesmo preso.
Lula, pelo visto, mordeu a isca.
Enquanto Dilma, aliviada por ter sido, por hora, mais poupada, preferiu mandar o ministro Edinho Silva fazer a declaração de praxe sobre o direito de manifestação, o Instituto Lula acabou dando mais visibilidade às ruas distribuindo uma nota em que diz que o ex-presidente fez muito pelo país e pelos pobres.
Como ninguém estava ou está discutindo isso e sim a corrupção e quem está por trás dela, o tiro saiu pela culatra.
O rei continua nu à vista de todos.