Os diretores do Datafolha escrevem hoje um artigo no jornal paulista cujo mote já foi antecipado aqui pelo economista Maurício Romão, na sexta-feira.
Veja o post e o texto abaixo.
Nova classe média abandonou Dilma?
Na Folha de São Paulo O recorde de reprovação a Dilma Rousseff (PT) revela um fenômeno curioso de homogeneização da opinião pública.
O resultado produz um quadro simetricamente oposto à curva de aprovação de seu padrinho político no último ano de mandato.
Ao longo de 2010, Lula pavimentava a vitória de sua ministra sobre patamares históricos de popularidade que variavam de 73% a 83%.
Taxas tão altas em universo tão heterogêneo ocorrem apenas quando os vetores que as compõem têm impacto abrangente e alcançam diferentes segmentos da população.
A característica aguda da crise política e econômica anulam o discurso ostensivo da inclusão social, marca do lulismo, mesmo junto aos estratos que mais se beneficiaram das ações do governo.
Para melhor compreender essa tendência, o Datafolha replicou na pesquisa de 4 e 5 de agosto método desenvolvido para dividir a população em classes socioeconômicas com base em renda familiar mensal, posse de itens de conforto e escolaridade.
A clivagem foi uma das variáveis que demonstraram maior grau de correlação com o comportamento do brasileiro na última eleição presidencial.
Percebia-se claramente a preferência das classes alta e média-alta por Aécio Neves (PSDB) e das classe média-baixa e dos chamados excluídos por Dilma.
A classe que mais cresceu nos governos petistas –média-intermediária– mostrava-se dividida.
Filhos da inclusão da era Lula, acabaram, no final, pendendo à candidata do PT.
Como a expectativa era positiva, os estratos que mais apoiavam a presidente na ocasião são hoje os mais frustrados.
De outubro de 2014 até aqui, a aprovação a Dilma caiu 44 pontos percentuais entre os excluídos contra 34 na média da população.
Apesar de ser o subconjunto que menos reprova a petista, o crescimento de sua insatisfação perde apenas para a classe média-baixa, onde a popularidade caiu 40 pontos e a rejeição subiu 63 (doze a mais que a média).
Na classe média-intermediária, a reprovação cresceu 53 pontos e a aprovação caiu 38.
Nas classes mais altas, a queda de avaliação de Dilma também é importante, mas não tão elevada quanto nos outros segmentos nos quais sua imagem era melhor.
Mais dependentes do governo, especialmente na educação e na assistência social, esses estratos temem o retrocesso que tentaram evitar ao reeleger Dilma.
No final do governo FHC, por exemplo, 17% dos brasileiros pertenciam à classe média-intermediária (hoje são 32%).
Entre eles, 22% eram assalariados registrados (hoje são 30%).
Por enquanto, mesmo com poder aquisitivo menor, esses estratos ainda “não perderam a classe”.
Mas há de se perguntar se a impopularidade de Dilma hoje é maior do que o medo do que pode acontecer a partir de agora.