Por Rogério Gentile, na Folha de São Paulo Governo fraco e o mais impopular já registrado pelo Datafolha, economia em frangalhos, instabilidade no Congresso Nacional e um infindável escândalo de corrupção. É difícil respirar num cenário desses.
Mas, em meio a tudo isso, há, sim, uma boa notícia no ar.
O Brasil está deixando de ser um país de otários.
Pode parecer pouca coisa agora, considerando a confusão decorrente na política e os prejuízos inevitáveis para a economia, mas o tratamento quimioterápico intensivo que começou na investigação do mensalão e prossegue no caso Petrobras está, de uma forma ou de outra, aos poucos, mostrando que a velha definição de Bezerra da Silva para o “otário” –sujeito que tem só dois direitos, o de tomar tapa e o de não dizer nada– não vale mais para o Brasil.
O procedimento em curso tem impacto profundo e abrangente.
Políticos importantes foram condenados.
O ministro mais poderoso de um governo popular foi preso uma, duas vezes, sendo que na última nem se sentiu mais à vontade para levantar teatralmente o braço e se dizer vítima de perseguição política.
Grandes empreiteiros estão na cadeia.
Um ex-presidente da República teve carros de luxo apreendidos.
Envolvidos nos esquemas foram obrigados a devolver uma fortuna que gira em torno de R$ 1 bilhão. É evidente que tudo isso não resultará no fim da corrupção, dos desmandos, dos desvios e dos superfaturamentos.
Não existe solução definitiva para esse tipo de assunto.
Tampouco indica que, das cinzas produzidas pelas investigações, surgirá uma classe política mais honrada.
Significa apenas que o país evoluiu e que as instituições funcionam com independência, não porque o governo atual permite, como martela o PT na sua difícil tentativa de se defender, mas pelo fato de que, 30 anos após o fim da ditadura, estão muito mais sólidas.
A impunidade deixou de ser uma certeza.
Corruptos e corruptores agora, ao menos, têm medo.