Sepulcros caiados, na Folha de São Paulo Por Carlos Heitor Cony Anterior ao naufrágio do Titanic, havia um ditado repetido por toda gente: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.

E mais antigo ainda, o anexim pode ser uma simples metáfora, dita pelo próprio Cristo, chamando os hipócritas de “sepulcros caiados”.

Penso nisso sempre que vejo uma embalagem nova e geralmente inexpressiva.

As caixas de fósforos da Fiat Lux tinham aquele terrível olho inventado não sei por quem, o olho severo do Criador nos olhando e fiscalizando.

Aliás, o mesmo olho comparece nas notas de dólar e acho que também nas lojas maçônicas.

Alguns times de futebol mudaram seus uniformes, o do Fluminense, por exemplo, é um horror.

O Vasco e outros tantos também.

Tradicionais produtos industrializados jogaram no lixo suas antigas embalagens e adotaram outras, tão enigmáticas que confundem todo mundo. “Saco azul e cinta encarnada” era o slogan do açúcar Pérola.

O tradicional Leite de Rosas vinha num elegante frasco de vidro, hoje vem num inexpressivo plástico rosa.

O Chacrinha vestido de mata-mosquito não é a mesma coisa.

Essas considerações iniciais são provocadas pela recente embalagem do PT e do próprio Lula.

Surgiu embrulhado num vermelho vivo significando um fato novo e necessário.

Agora, depois do mensalão e da Lava Jato, é completamente diverso da embalagem original, que representava um apelo realmente novo de um partido honesto e progressista.

Lula, com aquela barba revolta de Rasputin, era uma coisa.

Hoje, com a barba civilizadamente aparada e cara de burguês bem posto na vida, já não é aquele Lula sindicalista, preso várias vezes e com discurso moralista.

O PT, repetindo o anexim inicial, também é por fora bela viola, por dentro pão bolorento.