Eduardo Carvalho, autor do projeto Desenvolvendo cidadãos Globais, Harvard University Segundo pesquisa realizada pelo professor Carlos Pereira, da Escola de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas, a tolerância dos brasileiros com a corrupção é explicada pela justificativa “todo mundo faz isso”.
Dessa forma, o desvio do dinheiro é interpretado como algo rotineiro.
O eleitor também considera os benefícios que o político gerou para a população ou mesmo para si, e pensa: “não compactuo com a corrupção, mas é melhor continuar votando nesse político porque tenho mais a ganhar”.
Então, vale o velho lema malufista do “rouba, mas faz”.
Nesse contexto, a pesquisa também aborda o caso do político acusado de fraude, roubo, descumprimento de lei querer justificar a ação ilícita apontando para fatos ocorridos no passado.
Como exemplo, temos as tais ‘pedaladas fiscais’, referentes aos ajustes fiscais utilizados em 2014, que a presidenta Dilma tem agora que explicar.
A Advocacia Geral da União tenta justificar dizendo que governos anteriores também fizeram isso, como se assim fosse possível abonar o fato do atual governo poder agir de maneira equivocada.
O brasileiro tem muito que evoluir para a prática democrática.
No indicador de democracia, o Brasil está em 44º lugar.
No quesito corrupção, o nosso país está entre as 20 nações mais corruptas do mundo.
Outra pesquisa sobre os brasileiros foi realizada por Joseph Page, professor da Georgetown University.
Ele percorreu todo o Brasil e publicou sua pesquisa no livro The Brazilians.
Alguns dos relatos a seguir, extraídos dessa pesquisa, representam uma amostra representativa do comportamento e da atitude de parte dos brasileiros.
O país é enorme, caracterizado por grandes contrastes.
Em vários outros países se observa muito dos atos listados a seguir.
A diferença está no exagero e na frequência da prática do brasileiro em relação ao povo do mundo desenvolvido.
A relação de práticas boas e ruins pode ser ampliada com a colaboração do leitor.
Constata-se Brasil afora que o povo é tolerante em viver em cidade que o poder público permite que as calçadas sejam inacessíveis; ruas fiquem inundadas inverno após inverno; o sistema de esgoto continue precário ou inexista; as praças estejam descuidadas; a burocracia pública seja absurda; o transporte público permaneça péssimo; e os assaltos aconteçam em qualquer local etc.
O cidadão alega impotência para exigir seus direitos.
Não sabe nem a quem nem como fazer isso, e quando tenta é uma verdadeira via crucis.
Atos de anticidadania são praticados: atrasar em compromissos, desrespeitar à ordem das filas,sujar ambientes públicos, buzinar de forma exagerada, ouvir som em volume altíssimo, falar alto ao celular.
O brasileiro gosta de lazer.
O ano começa só após o Carnaval e pára na semana Santa.
Também adora um feriado em que possa imprensar dias e ter um longo final de semana, comemorar festa junina e não perder as oportunidades de celebrar aniversários, casamentos, batizados, formatura etc.
Julho é mês de férias, e em novembro o ano acabou para muitos.
Até podem ir trabalhar, mas a atenção está focada nas confraternizações, em celebrar mais um ano e em organizar viagens e as férias de janeiro.
As festas acontecem em horário gigante.
O brasileiro é apaixonado por futebol, telenovelas e carnaval.
Os brasileiros são monolinguistas, menos de um milhão de pessoas falam um idioma estrangeiro fluente.
São multiculturais, criam belas alegorias, ritmos musicais, danças, vários tipos de artes, cordéis, comidas.
Irradiam cordialidade, humor, alegria, hospitalidade, informalidade, mesmo quando estão em situação econômica desfavorecida.
Os brasileiros evitam o confronto e preferem adotar o “jeitinho”…
Tal característica é retratada no indicador de felicidade, em que o Brasil ficou em 16º lugar na pesquisa mais recente do Earth Institute da Columbia University, realizada em 2014.
Esse perfil estimula a impunidade e implica numa das maiores barreiras para o crescimento do país.
A celebrada doçura dos brasileiros fica ofuscada pelo péssimo indicador de homicídios (o pior do mundo) que evidencia que cerca de 50 mil pessoas são assassinadas por ano.
O brasileiro é obcecado por emprego público.
O estado é o maior empregador do país.
Mas, além dos órgãos governamentais, que são milhares, ainda há centenas de cargos públicos nas maiores empresas do país, como as estatais Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras e Caixa Econômica. É raro não ter alguém na família que esteja vinculado ao estado e seus poderes.
As razões alegadas por essa paixão são principalmente estabilidade, pouco trabalho (se comparado com a iniciativa privada) e aposentadoria diferenciada.
O brasileiro se aposenta cedo.
Por falta de oportunidades, dedica-se a praticar esportes, assistir TV, jogar cartas, participar de festas, viajar.
Raramente se envolve em alguma causa de impacto social através de uma fundação ou ONG.
O brasileiro é consumista.
Em comunidades pobres, a televisão de 50 polegadas adquirida em longas prestações com juros exorbitantes, contagia vizinhos que não demoram a ir às compras.
Também são objetos de desejo móveis, aparelhos de celular, veículos etc.
Na classe média, o brasileiro tem moradia restrita, mas circula em carrão, que é pago, na maioria dos casos, em longas prestações.
Viaja ao exterior com a permissão de trazer dois volumes com 32kg, cada, e traz.
Gasta mais do que ganha, não poupa e se submete a pagar juros bancários absurdos ou entra no rol dos inadimplentes.
O brasileiro faz gambiarras e serviços de qualidade precária.
Resolve seus problemas, mas não combate as causas dos mesmos, e tem baixo nível de produtividade quando comparado com nações desenvolvidas.
Muitos vivem de “bicos” e trabalho.
Os valores que são movimentados nesse mercado informal, que devem representar uma fatia considerável da renda do país, não são apurados no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB).
Nesse rol, há camelôs, flanelinhas, lavadores de veículos, faxineiras, eletricistas, encanadores etc.
O brasileiro tem memória curta.
No final de 2014, uma pesquisa apontou que a maioria dos brasileiros que votaram nas últimas eleições para deputados, não se lembra a quem deu o voto.
Uma das causas para essa ‘amnésia’ é o processo eleitoral imposto ao país. É que num único pleito, temos de eleger os candidatos aos principais cargos executivos (presidente e governador), e legislativos (senador e deputados federais e estaduais).
Por causa dos gastos concentrados nas candidaturas à presidência da República, governadores de estados e senadores, os cargos do legislativo, que têm extrema importância para uma democracia sustentável, são subestimados.
O resultado é esse conjunto de parlamentares eleitos, que têm o poder de definir leis e afins, e não visam o bem comum, apenas o interesse de pequenos grupos, como amplamente divulgado pela imprensa.
Isso tudo explica os sofríveis indicadores globais de competitividade, desenvolvimento humano, educação etc. do país e o governo que temos.
Se quisermos transformar esse país numa nação digna, competitiva globalmente, cada indivíduo deve pensar e repensar seu comportamento e atitude.
O povo tem o governo que merece.