Foto: reprodução da Internet Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife A especulação é livre e especula quem quer - sobretudo se dispõe de espaço diário nos meios de comunicação, na condição de “analista” da cena política.
Porém é razoável se esperar que o que se diz ou se escreve tenha um mínimo de vínculo com o mundo real, para além do simples “livre pensar”, como diria Millôr Fernandes.
Daí a necessidade de distinguir a especulação inteligente, prospectiva, que trabalha com hipóteses reais, do “chute” sem base real nem sentido.
Sobre as eleições de 2016, por exemplo, imaginar que o governador Paulo Câmara estaria “queimando as pestanas” na tentativa de manter toda a sua base político-partidária unida não faz o menor sentido.
Eleição municipal é fenômeno local, ainda que seus resultados - especialmente os que se referem às grandes e médias cidades - venham a pesar na correlação de forças nos planos estadual e nacional.
A dinâmica das candidaturas e das alianças obedece fundamentalmente a fatores locais.
Por isso é comum partidos coligados nos âmbitos federal e estadual ocuparem palanques distintos, mirando a Prefeitura e a ocupação de cadeiras na Câmara Municipal.
Nada mais natural num país como o nosso, de dimensão continental, marcado por enorme diversidade regional e municipal - nas dimensões econômica, política e cultural - e que tem o espectro partidário fortemente constituído pelo somatório de grupos locais, não raro portadores de interesses contraditórios entre si, embora abrigados sob uma mesma legenda.
Partidos de feição nacional e unos ainda são uma construção penosa, impactada pela legislação eleitoral que induz ao voto unipessoal e a uma representação fragmentada. (O Partido Comunista do Brasil se faz exceção em razão dos seus fundamentos teóricos e programáticos).
Então, atribuir ao governador Paulo Câmara, como de resto a qualquer dos seus colegas pelo Brasil afora, a missão de construir palanques tão amplos e generosos que mantenham do mesmo lado todas as legendas que o apóiam é fechar os olhos à realidade, especulando no vazio.
Demais, a busca de entendimento entre as forças políticas presentes em cada município e o desenho dos palanques oponentes se dará, de fato, no início do ano vindouro.
Até porque no tempo que transcorrerá até lá há uma crise política, institucional e econômica em curso, cujos desdobramentos poderão pincelar com traços fortes o ambiente social e eleitoral futuro.
Por enquanto, de concreto mesmo há os preparativos prévios de todas as legendas, que buscam se cacifar, cada uma a seu modo, buscando inclusive compor nominatas de candidatos e candidatas à Câmara Municipal – um dos fatores a considerar à mesa das futuras tratativas, seja entre os que se posicionam hoje como governo, seja entre os que se batem na oposição.