Quanto pior, pior Por Michel Zaidan O repórter do JC perguntou o que achava da atitude do ex- presidente Fernando Henrique Cardozo em rejeitar o convite de Lula para uma conversa sobre a crise política que ora atravessamos no país.

Repliquei que, em outros países, existe uma espécie de um Conselho da República, que reune notáveis e velhos políticos, que se reúne em situações como essas para discutir os problemas e ver o que é o melhor para o país, independentemente de partidos, ideologias ou interesses particulares.

Infelizmente, no Brasil, não existe algo semelhante.

Quando se instala uma crise política, como a atual, ela parece o fim dos tempos.

Há algo de messiânico e apocalíptico na cultura política brasileira.

Ou seja, uma crença de que quanto pior, melhor.

Do caos, sai a luz.

Da desorganização, sai uma nova forma de organização do universo.

Esta tese - muito a gosto dos pescadores de águas turvas e candidatos a messias político - é um enorme equívoco.

Quanto pior, pior.

A política brasileira mais parece um abismo sem fim e a profundidade da queda acarreta mais malefícios à sociedade.

Que FHC critique o caráter privado, esquivo, quase clandestino do encontro pretendido por Lula, alegando que se parece com um “conchavo” e o que tiver ser feito, tem de ser feito, no fundo é uma aposta irresponsável pelo pior, achando ele e os seus que o PSDB (e os brasileiros) teria algo a ganhar com o afastamento da Presidente Dilma do cargo.

Primeiro, o beneficiado é o PMDB e o vice-presidente da República, Michel Temer.

Segundo, esses acontecimentos são imprevisíveis na política brasileira.

Ninguém - com certeza - pode prever a dimensão, o desfecho ou vulto que as coisas poderiam tomar, caso se concretizasse a aposta do PSDB.

Acima de tudo, é irresponsável, pouco sensato, despojado de magnanimidade e interesse público desejar o aprofundamento de uma crise política, apenas por vingança, retaliação ou interesses partidários.

Além do que, a crise não é só política, embora a política influencie a crise econômica.

Ela é também econômica e parece se aprofundar cada vez mais por conta das especulações, intrigas e manobras dos partidos da oposição a Dilma.

Não se dão conta os oposicionistas que suas manobras conspirativas não abalam só o prestígio ou a popularidade da atual titular da Presidência da República brasileira.

Prejudicam sobretudo ao país, aos brasileiros.

Parte da crise econômica é de responsabilidade da instabilidade política, da crise de governabilidade no Congresso, da baixa popularidade da Dilma e dos boatos em torno de seu eventual impedimento, em razão dos processos nos tribunais superiores.

Nada disso faz bem ao Brasil e os brasileiros.

Espera-se que as instituições judiciais e policiais funcionem com absoluta normalidade, sem pré-julgamento de suas ações.

Aguarda-se um julgamento técnico das contas da Presidente e o pronunciamento do Congresso Nacional, livre de paixões ou espírito de facção.

O que tiver de ser feito, será.

Mas torçamos pelo melhor para o Brasil.

Quanto melhor, melhor e não o contrário.