Foto: Divulgação Por Mariana Mesquita do Jornal do Commercio Documentos inéditos da “Operação Cacau”, promovida por agentes da ditadura militar simultaneamente na Bahia, São Paulo e Pernambuco, foram entregues nesta quinta-feira (23) a sobreviventes de tortura e familiares de dois militantes da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), assassinados em 1973.

As mortes estão ligadas a outros assassinatos em cadeia a partir de junho daquele ano, inclusive aos dos desaparecidos políticos pernambucanos Eduardo Collier, Humberto Câmara Neto e Fernando Santa Cruz.

Na ocasião, a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) colheu os depoimentos dos jornalistas Oldack Miranda, testemunha das torturas aplicadas a Gildo Macedo Lacerda, e Mariluce Moura, viúva de Gildo, que estava grávida da filha Tessa ao ser detida junto com o marido.

Marília, irmã de José Carlos Novaes da Mata Machado, também esteve presente na audiência pública, em que recordaram a farsa do chamado “Teatro da Caxangá” e cobraram do governo brasileiro explicações sobre o paradeiro dos corpos desaparecidos.

Até hoje, apenas José Carlos foi localizado.

José Carlos foi preso em São Paulo, em 19 de outubro de 1973, e Gildo, em Salvador, no dia 22.

Segundo o relato explicitado à imprensa, os dois já tinham sido mortos quando o chefe do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do então IV Exército, Antônio Cúrcio Neto, utilizou um estratagema para justificar o fato de terem sido transferidos de outras cidades para o Recife.

Numa prática relativamente comum na época, no dia 31 os agentes simularam um tiroteio com mortes, no cruzamento da avenida Caxangá com a avenida Polidoro, forjando também uma situação comprometedora para os envolvidos.

A nota oficial, divulgada na época nos jornais e na televisão, dizia que os dois estavam indo se encontrar com um terceiro “subversivo” de codinome Antônio, que “abriu fogo contra os companheiros, acusando-os de traidores”.

Antônio, cujos restos mortais também não foram encontrados, ao que tudo indica seria o político Paulo Stuart Wright, que havia sido sequestrado dias antes, num caso que gerou repercussão internacional. “A Operação Cacau buscava desmontar a antiga APML e promoveu prisões e assassinatos de forma simultânea.

Sempre se questionou a razão pela qual essas pessoas tinham sido trazidas para o Recife, mas isso se explica pelo fato de que a coordenação do IV Exército ficava aqui, onde havia inclusive um aparato permanente e sofisticado para promover torturas.

A Comissão de Pernambuco tem a competência para investigar casos de pernambucanos ou de outras pessoas que foram mortas neste Estado, o que sem dúvida nenhuma foi o caso de Gildo e José Carlos”, explicou o secretário geral da CEMVDHC, Henrique Mariano.

Ele frisou ainda que “o sistema de repressão era totalmente interligado e ligado diretamente à Presidência da República, através do Sistema Nacional de Informação.

De certa forma, estamos fazendo também um trabalho em rede.

As várias comissões trabalham em regime de cooperação e isso tem dado um resultado bastante eficiente. É um grande quebra-cabeça que está sendo montado aos poucos, e ouvir atores da época, como fizemos hoje, é fundamental para este processo”.