Eduardo Cunha em entrevista coletiva concedida a jornalistas.
Foto: Nilson Bastian / Câmara dos Deputados Da FolhaPress Em rota de colisão com o Planalto desde que assumiu a presidência da Câmara, no início do ano, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) oficializou na manhã desta sexta (17) o seu rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff.
Cunha afirmou que, a partir de agora, será oposição.
Mas enfatizou que não atuará contra o governo como presidente da Casa.
Cunha responsabiliza o Planalto pelo seu envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato.
Para ele, há uma articulação do governo para jogá-lo no centro da investigação.
Nesta quinta (16), ele foi acusado pelo lobista Júlio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina.
Ele nega as acusações. » Eduardo Cunha, um ditador pop » Delator na Lava Jato diz que pagou propina de US$ 5 mi a Eduardo Cunha “Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje. […] Teremos a seriedade que o cargo ocupa.
Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo”, disse, nesta sexta.
Ele acusou o governo de ter orquestrado uma campanha contra ele no âmbito da Lava Jato e disse que há um “bando de aloprados” no Planalto, mas se negou a responder quem seriam essas pessoas.
Em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo, Cunha já havia declarado que iria abandonar o governo.
Segundo ele, o envolvimento de seu nome nas investigações é “tudo vingança do governo”. “Parece que o Executivo quer jogar a sua crise no Congresso”, disse Cunha à Folha. ‘LAMA’ Cunha afirmou também que não será arrastado “para a lama” em que o governo se envolveu em atos de corrupção na Petrobras. “Essa lama em que está envolvida a corrupção da Petrobras, cujos tesoureiros do PT estão presos, eu não vou aceitar estar junto dela”.
O parlamentar garantiu ter provas da atuação do governo contra ele e informou que a Receita Federal está fazendo uma devassa fiscal em suas constas desde 23 de junho. “É um constrangimento a um chefe de poder”, disse.
PMDB O presidente da Câmara disse, ainda, que defenderá o rompimento imediato do PMDB com o governo no próximo congresso do partido, que acontecerá em setembro.
Questionado sobre como ficaria o vice-presidente da República, Michel Temer -que é presidente nacional do PMDB- com a situação, Cunha afirmou não ver problema em o partido sair do governo e ainda assim Temer continuar como vice-presidente.
Apesar de ser da base aliada, o partido tem gerado tensão para o governo.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), -que não é de partir para o ataque ao Palácio do Planalto verbalmente- tem preferido retaliar a presidente Dilma Rousseff em votações e manobras na Casa.
Suas críticas também estão no balanço semestral do Senado, publicado na internet nesta sexta -ele iria dar uma entrevista coletiva sobre assunto, que foi cancelada.
No documento, o senador volta a defender a rediscussão do modelo de coalizão em vigor no país. “O método atual, de aparelhamento e fisiologia, está exaurido e precisamos, sempre, qualificar programaticamente as coalizões afim de preservar a independência dos Poderes e a solidez democrática.” O peemedebista reitera, no documento, que o ajuste fiscal promovido pelo governo caminha para ser um “desajuste social” por unir a “explosiva combinação” de recessão, inflação alta, desemprego e “juros pornográficos”, que somente o trabalhador “pagou a conta do ajuste” e que não há horizontes de melhorias para o país após as medidas tomadas pelo Executivo. “Não é a política que contamina a economia.
Quem alimenta a crise política é a crise econômica”, afirma.
O peemedebista diz que há uma “crise recorrente” no país, sem espaço para soluções “fora da lei”.
A colaboração do Congresso com o governo, segundo Renan, não pode ser confundida com “submissão ou leniência”.