Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife.

Desde o fim da URSS, no início, dos ano 90, se estabeleceu um novo desenho geopolítico no mundo, unipolar, sob a hegemonia econômica e militar dos EUA.

Mais de duas décadas após, em meio a crescente instabilidade econômica, financeira, política e militar, dá-se a transição a um novo desenho, multipolar - enfraquecendo-se gradativamente o poder absoluto norte-americano e ganhando corpo o papel de grandes países emergentes, sobretudo a República Popular da China, em marcha batida para o primeiro lugar no pódio das potências econômicas mundiais.

A crise atual do sistema imperante - econômica, financeira, sistêmica - com epicentro nos EUA e nos países centrais da Europa, longe de encontrar solução (vide o atual imbróglio entre os países da zona do euro e a Grécia), dá ensejo a que diversos fatores dinâmicos da transição atuem com certo peso.

Nesse contexto, situa-se a reunião de hoje em Ufá, na Rússia, da qual participam os chefes de Estado do BRICS, grupo de países integrado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A presidenta Dilma participa da reunião.

Ponto de destaque na pauta, a implantação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com a posse dos seus diretores executivos.

O Banco - com capital inicial de US$ 50 bilhões - deve financiar grandes projetos de infraestrutura e de sustentabilidade, inicialmente realizados nos países membros e, posteriormente, em outros países em desenvolvimento.

Há muito o que acontecer, pelo menos nas próximas duas décadas, até que se constitua a nova conformação geopolítica mundial.

A transição em curso está, por assim dizer, em seu início.

E, como todo processo de transição, está sujeita a idas e vindas, a avanços e a retrocessos, sob o impacto de contradições que dividem uns e aproximam outros, dentre os países mais importantes e ativos na cena mundial O Brasil tem um papel relevante a cumprir, como bem reconheceu o próprio presidente Obama, quando da recente visita da presidenta Dilma aos EUA.

Este papel é realçado sobretudo na esteira da atual política externa brasileira, concebida e praticada desde o primeiro governo Lula, que diversificou nossas relações diplomáticas e econômicas, promovendo parcerias privilegiadas com a China, e, em dimensão menor, com os demais países do BRICS; além de articular a convergência e a unidade de interesses com nossos irmãos sul-americanos.

A crise econômica global eclodida em 2008 teria efeitos devastadores se ainda dependêssemos, como antes, de exportações para os EUA (em mais de 40%), cuja economia afundou naquela ocasião.

Da mesma forma que agora, quando a crise global afeta os países ascendentes, a China é afetada e, em determinado grau, atinge a economia brasileira em razão de que parte substancial de nossas exportações de commodities minerais e agrícolas nos são demandadas pelos chineses, hoje nossos principais parceiros comerciais.

O fato é que os impasses econômicos brasileiros têm relação com o que acontece no mundo, ainda que devamos buscar nossas alternativas fundamentalmente no enfrentamento dos chamados fatores internos - apoiando-nos, inclusive, em nossas imensas potencialidades e em nosso pujante mercado interno.

Prestemos atenção, então, aos resultados desta sétima reunião de cúpula do BRICS.

Com um duplo olhar - no mundo e no Brasil.