Por Eduardo Carvalho, autor do projeto Desenvolvendo Cidadãos Globais, Harvard University O nosso Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, tem a quinta maior área territorial e é a sétima economia mais rica do mundo.
Possui um PIB (que representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços produzidos no país durante um ano) superior a R$ 4,5 trilhões.
Podemos listar outros resultados grandiosos, como produção de alguns minerais e produtos agrícolas, considerados como produtos primários, e que são exportados.
Entretanto, essa grandiosidade não está representada em outros tantos indicadores, como por exemplo, o PIB per capita, calculado pela divisão do PIB/população do país, que é de aproximadamente R$ 1.800,00/mês.
Com essa renda, somos classificados em 75º lugar no ranking.
Se ela fosse mínima, seria motivo de comemoração para todos os habitantes, mas é inferior a 74 países.
Há ainda outro indicador que avalia a distribuição de renda num país. É o GINI, que mede o grau de concentração de renda.
Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos.
Numericamente, varia de zero a um.
O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda.
O valor ‘um’ está no extremo oposto, e nesse indicador patinamos ano após ano.
Recentemente, esse indicador foi de 0,495, um dos 20 piores na lista de 141 países.
Ou seja, somos uma nação com uma das maiores concentrações de renda do mundo.
Ilustrando o caso, o grupo de 1% mais rico ficou com 25% da renda do país, e os 5% mais abastados que estão no topo, com quase 44%.
Na educação, alicerce das economias mais prósperas do mundo, o nosso desastre é enorme.
No PISA-Programa de Avaliação Internacional do Ensino Médio, pioramos no período de2009 a 2012, quando foram realizadas as avaliações mais recentes.
Declinamos da 53ª posição para a 58ª entre os 65 países avaliados.
No IDEB-Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico, estagnamos nos últimos três anos na pontuação 3,4 para o ensino médio.
No ensino superior, a única universidade brasileira que já apareceu na lista das melhores do mundo, entre as 200, foi a USP.
Ela esteve em greve por mais de 120 dias no final de 2014.
Nos EUA, por exemplo, jamais soube de uma universidade em greve.
Apesar do número de matrículas no ensino superior ter aumentado entre 1992 e 2002 cerca de 126%, apenas 14% dos jovens de 25 a 35 anos concluiu essa etapa do ensino.
O país ainda tem mais de 13 milhões de analfabetos segundo a PNAD-Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE.
Quando consideramos o desenvolvimento humano, o IDH-Índice de Desenvolvimento Humano nos posiciona na 79ª colocação, ou seja, 0,742 na escala de 0 a 1, ficando atrás de vários vizinhos latinoamericanos, como Argentina, Uruguai, Venezuela, Costa Rica, México, Chile, Panamá e Cuba.
Esse indicador, concebido pela ONU para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico da população, baseia-se em três pilares: saúde, educação e renda.
Na cidadania, ao analisarmos os indicadores de percepção de corrupção, estamos na 72ª posição, e no indicador de impacto da corrupção na competitividade, figuramos no 130º lugar entre os 140 países pesquisados.
No indicador de segurança, quando nos referimos a homicídios, os números apontam para cerca de 50 mil/ano, um dos cinco piores do mundo.
Ao avaliar o indicador de liberdade de imprensa, controlada pelo poder econômico, atestamos que o Brasil está na 111ª posição do ranking, também uma das piores do mundo.
Quando o assunto é infraestrutura, segundo os indicadores do PNAD, apenas 55,6% da população têm acesso a rede de abastecimento d’água; 41,9% possuem rede coletora de esgoto; 58,4% têm direito à coleta de lixo na rua; e 64,8% têm acesso à iluminação elétrica.
Apenas 14% das rodovias brasileiras são pavimentadas e um mundo de estradas, pontes, viadutos e túneis precisam ser construídos para que a logística do país viabilize o fluxo de matérias primas e produtos.
Em competitividade global, despencamos da 38ª posiçãopara a 57ª, no período de 2008 a 2014.
A balança comercial brasileira é deficitária e sustentada pela exportação de produtos primários, cujo setor emprega mão de obra de baixo valor, gerando poucos bons empregos.
A carga tributária, uma das maiores do mundo, cerca de 37%, é agravada pelo não-serviço ou pelos péssimos serviços oferecidos.
E a população não vê outra alternativa senão pagar custos adicionais com sistemas de segurança (porteiros, equipamentos, muros e cercas), fornecimento de água domiciliar, inclusive água potável, entre outros.
A dívida pública brasileira superou a casa dos R$ 2 trilhões, e cresceu a taxas geométricas desde 2004, quando era de cerca de R$ 200 bilhões.
Esse cenário resulta no grande enriquecimento da rede bancária, e em juros exorbitantes que prejudicam o fluxo econômico do país, nos posicionando como uma nação que pratica um dos juros mais altos do mundo.
Com uma inflação da ordem de 8,47%, conquistamos mais um desastroso troféu: o de ter uma das economias mais inflacionadas do mundo.
Quando assistimos a presidenta nos comparar com nações desenvolvidas em taxa de crescimento, dívida interna e externa, ‘sugerindo’que estamos bem, quer iludir a população para fins eleitoreiros.
Os países desenvolvidos têm excelente níveis de infraestrutura, educação e desenvolvimento humano.
O Brasil tem tudo a fazer, a conquistar.
São tantos problemas que fica difícil definir as prioridades.
Estamos vivendo num país que perdeu a capacidade de crescer.
Para que isso ocorra, temos que aumentar a produtividade através da melhoria do capital humano, com investimento em educação.
Simultaneamente, é fundamental melhorar a equidade de renda, a infraestrutura, a carga tributária, enfim, tudo que apresenta indicadores ruins, os quais foram expostos nesse texto.
O desafio é enorme; um plano sustentável deve ser elaborado contando com grande apoio de empresários, políticos e de nós todos que amamos o nosso país, e nele temos as nossas raízes, família, amigos.
Estamos cansados de planos gambiarras/ajustes fiscais que exigem mais sacrifício do povo, beneficiando apenas lobistas e alimentando o sistema e corrupção.
Superar a desconfiança no sistema político é crucial nesse processo.
Sem credibilidade, é muito improvável que a governança do Brasil (considero aqui os poderes Executivo e Legislativo) resista por mais tempo.
O país não pode parar, o povo não pode se sacrificar mais.
A operação Lava-Jato é uma oportunidade (cruel, é verdade) para que o país evolua a uma nação ética.
Mas isso pressupõe perseverança por parte do juiz que lidera a operação.
O processo é longo porque é complexo, e os políticos em cargos eletivos gozam de imunidade.
Por enquanto eles foram apenas denunciados.
A imunidade garante ao parlamentar a impossibilidade de ser ou permanecer preso.
A única exceção é com relação à prisão em flagrante por crime inafiançável.
Essa mesma regra vale para outros políticos em cargos eletivos, inclusive a Presidente da República.
Resta-nos a esperança que a sociedade se mobilize para conscientizar parlamentares a alterar esse artigo constitucional, restringindo-o apenas aos chamados “delitos de suas opiniões, palavras e votos”.
Enquanto essas ações de mudanças sustentáveis não ocorrem, vamos continuar cautelosos nos gastos, mas continuar manter o dinheiro em circulação, ao menos o que for possível.
Já tivemos situações piores no país, na fase do Plano Collor, por exemplo.
Nesse caso, a circulação do dinheiro ficou interrompida pelo confisco.
Em um país pobre como o Brasil, desempregar as pessoas é péssimo, e é ainda pior desempregar as pessoas de baixa renda.
Apelo para que isso não ocorra.
O sacrifício vale por acreditar que o exemplo de medidas anticorrupção tem sido fundamental para contribuir para a evolução do país a uma nação ética, requisito essencial para torna-se um país desenvolvido.
Vamos crer.