Por Fernando Castilho, colunista de economia do JC O Partido dos Trabalhadores faz 35 anos, reclama da vida, distorce a realidade e a sua estrela maior, o ex-presidente Lula, vira “mais um” numa agremiação que já não sabe para onde vai.
Está num governo que não desenvolve seu programa partidário liderado por uma presidente que pede o que ele nunca terá coragem de defender em público porque entende que isso seria suicídio eleitoral.
Visto do noticiário o Congresso do PT, em Salvador, foi uma ‘DR (discussão de relacionamento)’ não finalizada.
Como defender um governo que não o representa em termos partidários e programáticos?
O PT sofre com uma mistura de perplexidade, desencanto, dispersão e se agarra a um resto de esperança.
Como defender um partido que perdeu sua áurea de seriedade e que seus dirigentes no começo, exemplo da resistência, estão na cadeia por corrupção.
E que poderá ter mais dirigentes presos à medida em que as investigações avançam?
Petista históricos agarram-se num resto de esperança.
Depois de 35 anos não dá para as pessoas que venderam botons na rua desistirem da utopia petista.
Muitos se perguntam – sem ter coragem de verbalizar para si próprios: se eu desistir do PT como vou viver?
O que vai sobrar de minha utopia?
O mais cruel para essas pessoas é que os dirigentes estavam se lixando para essa utopia.
Na primeira oportunidade foram pragmáticos em termos de apropriação de recursos em nome de fortalecer o partido.
Entusiasmados com a facilidade de captação financeira expandiram as contas e se meteram em práticas que, nas ruas, essas pessoas que hoje se agarram a um resto de esperança trocavam tapas com se tivessem a coragem de insinuar desonestidade.
Não é fácil defender as ideais do PT hoje.
Basta olhar para quem cuida do partido hoje?
Quem dirige o partido?
Quem indica, quem lidera?
Quem fala por ele?
O PT sofre mais porque o PMDB, que foi o avalista de sua ascensão ao poder, agora quer tomar o contrato.
Não quer derrubar Dilma Rousseff, quer humilhar o PT.
No Congresso, no Senado e na Câmara.
Da mesma forma que há uma “ninguemzada” cuidando do PT, no PMDB há mesmo o que o deputado Carlos Zarattini disse na Bahia ser o oportunista de ocasião.
Oportunista sim, mas de ocasião é pouco para definir Eduardo Cunha.
O PMDB ja tinha virando uma constelação de legendas estaduais e foi dominado pela facção pragmática há décadas.
Mas, no governo Dilma o PMDB viu que sem ser do ramo, ela seria presa fácil para o interesse do partido no Congresso.
Não se deve confundir a prática de hoje com o interesse do partido em nível nacional e muito menos dos interesses nacionais.
O que representa Eduardo Cunha?
Nada e tudo.
Num governo forte, ele sequer estaria na mesa diretora.
Num governo forte, ele não reuniria (como reúne hoje) sequer o baixo clero.
Eduardo Cunha, em termos de fisiologismo, está quilômetros na frente do que foi Severino Cavalcanti quando presidiu a casa. É pior, do ponto de vista da democracia, que o ex-deputado pernambucano.
Porque está à serviço de uma simples causa: desmoralizar o governo de Dilma e, por consequência, o PT.
Rigorosamente nesta ordem.
O que programa Eduardo Cunha para o futuro?
Nada.
Ele sabe que este é seu momento lindo.
Sabe que o Brasil não é uma República de Bananas e muito menos uma República Evangélica.
Em algum momento, as forças politicas se organizam, redefinem os rumos e ele voltará ao seu lugar.
Mas, hoje está ali para ser, não o oportunista de ocasião, e sim para aproveitar a ocasião da oportunidade.
Ele sabe, talvez como nenhum outro, aproveitar a ocasião.
E o PT ajuda muito.
Vivendo uma crise de identidade, o PT prefere a retórica a derrotar o PMDB de Eduardo Cunha que já não quer ele para nada.
Se pensasse objetivamente já teria, junto com o PSDB, o PPS e o PSB, “enquadrado ” Eduardo Cunha.
Mas, em lugar de pensar em poder, o PT pensa em governo.
Como diria a sabedoria popular, o PT “aviciou-se” no governo.
Certo, é difícil fechar acordo com um partido como o PSDB que nunca sabe até hoje se é Maria ou se é João na política.
Que tem medo de ser atacado até no Facebook e Twitter.
Mas, entre “dar luz” a Eduardo Cunha, vingando-se do desprezo de Dilma para com ele e fechar um acordo para pensar o país, ele escolhe a vingança.
O PT pensa diferente em tudo.
E entre sua perplexidade, seu enorme desencanto e sua crescente dispersão ele se agarra a um resto de esperança.
Eles ainda acreditam que Lula “em breve vem”.
Nesse ponto é mais crente que Eduardo Cunha.
Paciência.