Por demétrio magnoli, na Folha de São Paulo – Uh, LULA, qual é?
Quer tocar fogo no meu governo? – Eu, Dilminha? – Você, sim! “Onde está, no estatuto do PT, que tem que votar contra o trabalhador e o aposentado?
Vote de acordo com a sua consciência” –foi isso que você falou pro Paim. –Esquece o Paim, querida.
Ele não ia ceder mesmo.
Falei por falar. – Ok, mas e o Lindbergh com aquele manifesto contra o Levy?
Esse só faz o que você permite.
Tem mais: no congresso do PT de São Paulo, aquele fracasso, todo mundo gritava “Fora, Levy”.
Vai ser assim no Congresso Nacional, vai? – Dilminha, você sabe como é o PT, né? – Não sei.
Nunca circulei no PT, graças a Deus.
Sei que não gritariam isso contra você.
O jogo agora é derrubar o Levy, Lula?
Onde você quer chegar? – Não grita, Dilma!
Não sou teu ministro número 40.
Vê se entende: sou candidato.
Pronto, falei. – Isso eu sei, desculpa gritar.
Mas combinamos outra coisa.
O Levy, aquele desaforado, você quis o Levy! – Eu, não: queria o Brandão. – Dá no mesmo, ora, é o Bradesco.
E combinamos que o Levy fica até passar essa fase; depois troco pelo Barbosa. – Sei, Dilminha, não é pra mudar o plano, não. – Ah, não?
E o “Fora, Levy”? – Querida, sou candidato!
Não posso ser candidato da recessão, da austeridade.
Sou o cara da utopia, do futuro.
Entendeu? – Entendi, sim.
Bacana, pra você.
E eu?
Você viu meu Ibope? – Divisão do trabalho, Dilminha.
O projeto é o mesmo. – Projeto?
E se o Levy não aguenta, pega o chapéu?
Qualquer um pode fazer corte no orçamento, mas ele é o amigão dos caras das agências de rating.
Se cortam nossa nota, afundamos.
E bau bau teu projeto! – Calma, querida, ele não sai. É bobo, vaidoso.
Quer escrever no currículo que salvou a pátria.
Dá pra esticar a corda.
Não veta a mudança no fator previdenciário.
Ele engole mais essa, garanto.
E você ainda ganha umas palminhas no congresso do PT. – Gozado, Lula, você teve oito anos e não mudou o fator previdenciário. – Não precisava, Dilma.
Fui reeleito.
Você foi eleita. – Captei: eu quebro a Previdência pra te eleger, é assim? – Não grita, querida!
O mundo não nasceu hoje: eu comecei a quebrar o país pra te eleger.
Todo mundo que lê jornal sabe disso. – Jornal, Lula, sério?
E a tua história da mídia malvada?
E essa grana que nós torramos com os puxa-sacos dos blogs?
Aliás, puxa-sacos teus!
Eles estão nessa do “Fora, Levy” e quase pedem a minha cabeça.
Pagos pela Petrobras, logo a Petrobras.
Tem graça? – Grana de troco, Dilminha.
Você vem falar disso no meio da Lava Jato? – Lava Jato, Lula, bem lembrado.
Gabrielli era teu, não meu.
Vaccari, teu.
A turma das empreiteiras, teus chapas.
Minha era a Graça, que sacrifiquei. – Para, Dilminha.
E daí? – Daí, é a tua herança.
Tem o Moro, que vai chegar nas elétricas.
Querem abrir os segredos do BNDES.
Tem o impeachment, sabe o que é isso?
E justo você quer incendiar meu governo!
Não admito essa campanha contra o Levy. – Querida, sou candidato. É esse o projeto.
Até a eleição, preciso da esquerda. – Sei, depois é outra coisa, né?
Você governou com o Levy, quando precisou.
Eu não posso? – De novo, Dilminha, esse papo? – Esquerda até 2018, depois Odebrecht.
Cara de pau! – Devagar, querida.
Chantagem, agora? – Agora é você que está gritando, Lula. – Olha bem pra mim: sou o o cara, lembra? – O cara?
Olha em volta, é só ruína.
O Dirceu, o Palocci.
Vaiam o PT na rua.
Pelo menos o Levy dá editoriais a favor.
Esses caras dos jornais acreditam em ajuste fiscal, saci-pererê, mula-sem-cabeça.
São minhas únicas vitórias no Congresso.
Preciso de uma trégua, Lula. – Querida, você não aprende mesmo. É política, isso.
Segura a onda.
Fica com os editoriais, eu fico com o Stédile. É o que tenho, hoje.
Mas sem chantagem!
Esquece os meninos do MBL.
Você viu, não são nada.
Impeachment?
Desencana.
Você não é o Collor, porque tem o PT.
Ainda.
Enquanto eu quiser.