Cunha ’estava se sentindo um deus’, diz ex-relator da reforma Na Folha de São Paulo Relator por mais de três meses da reforma política na Câmara, o peemedebista Marcelo Castro (PI) disse nesta quarta (27) à Folha se sentir de “alma lavada” com a robusta derrota do distritão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Ele estava se sentindo tão poderoso, tão capaz, que estava se dando o direito de agir como se fosse um deus que sabe o que todo mundo pensa, que sabe o que está na cabeça de cada um.
Deu no que deu.” Castro foi colocado na relatoria da comissão pelo presidente da Câmara, mas acabou destituído após criticar o distritão.
A comissão teve o trabalho descartado e não votou um relatório.
O deputado peemedebista chegou a ser classificado por Cunha como autor de um relatório “confuso” e carente de “inteligência política”.
Segundo Castro, o presidente da Câmara ligou depois para se desculpar pelas declarações e o chamou para uma conversa em seu gabinete. “Eu disse a ele tudo o que pensava.
Que ele havia sido o líder [da bancada do PMDB, cargo que ocupou antes da presidência da Câmara] mais democrático que já havíamos tido no PMDB.
Ouvia todo mundo, distribuía tarefas, todos participavam”, disse. “E, uma vez na presidência, ele estava se revelando uma pessoa completamente contrária a isso.
Só ele era o inteligente, só ele é quem sabia, só ele é quem podia, só ele é quem fazia”, completou o deputado peemedebista.
No plenário, o distritão só teve, na terça (26), o apoio de 210 deputados, quase 100 a menos do que o mínimo necessário para a alteração do sistema eleitoral. “Me sinto 100% desagravado, de alma plenamente lavada, acho que foi uma injustiça comigo, com a comissão [descartar o trabalho da comissão da reforma política].
Um ato desnecessário, desmotivado, desrespeitoso, arbitrário”, afirmou Castro.
Leia mais Podem haver outras explicações para a derrota, conforme relata a coluna Painel, do próprio jornal, sob o título Amor de verão. “Nas conversas após a derrota do distritão, o grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) identificou que a ação do Planalto para reaglutinar a base, com a entrega de cargos aos partidos aliados, fragilizou o até então todo-poderoso presidente da Câmara.
Deputados de PP, PR e PTB abandonaram a fidelidade a Cunha e agora têm mais boa vontade com os ministros de Dilma Rousseff.
Esses parlamentares se queixam da demora do presidente da Câmara de pautar projetos de seu interesse”.