Elio Gaspari, na Folha de São Paulo Há alguns meses o juiz Sergio Moro perdeu uma parada feia.

O caso das propinas pagas na Petrobras pelos holandeses da SBM saiu de sua jurisdição e, pelo que se teme, foi dormir.

A SBM é a maior operadora de unidades flutuantes de petróleo do mundo.

No ano passado pagou uma multa de US$ 240 milhões por propinas que distribuiu mundo afora.

No Brasil, despejou US$ 139 milhões de “comissões legítimas”.

Moro e a força-tarefa do Ministério Público não disseram uma palavra.

Pareciam Bobby Fischer entregando a rainha na partida de xadrez que, mais tarde, veio a ser chamada de “o jogo do século”.

Nas petrorroubalheiras das sondas e unidades flutuantes estão imersos contratos de US$ 25,5 bilhões.

Desde que começou a Lava Jato esse braço das operações vem sendo protegido por um manto de empulhações.

Em Curitiba, o jogo foi outro.

Entre os empreiteiros presos em novembro estava Gerson Almada, vice-presidente da Engevix, dona de um lote de contratos para a construção de sondas.

Na sexta-feira, Moro prendeu preventivamente Milton Pascowitch, o cupido das boas relações do PT com a Engevix.

Almada reconhecera que pagava comissões a Pascowitch.

Entre 2004 e 2014 foram R$ 80 milhões.

Segundo Pedro Barusco, Pascowitch era um dos onze operadores que molhavam suas mãos e as de Renato Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras.

Se há uma grande conexão entre as petrorroubalheiras e o PT, ela passa também por aí.

Um dos clientes da empresa de consultoria do comissário José Dirceu era o doutor Pascowitch.

Quando Bobby Fischer entregou a rainha, sabia o que estava fazendo.

Ao fim do jogo, a rainha do adversário ficou sem ter o que fazer, e o garoto ganhou a partida.

Moro sabe que dois bancos japoneses já jogaram a toalha em relação a seus créditos com estaleiros nacionais.

Um terceiro ameaça vir com a faca nos dentes, querendo saber se o seu dinheiro foi usado para pagar propinas.

Almada já contou alguma coisa.

Duque e Pascowitch estão em copas, mas há razões para se supor que Moro esteja mais um lance à frente, com um novo canário interessado em cantar para o Ministério Público.

Em fevereiro o juiz Moro negara um pedido de preventiva contra Pascowitch, agora deferiu-o.

Mais: o Ministério Publico está puxando o fio da meada das relações financeiras de empreiteiros com alguns escritórios de advocacia.

Até agora a iluminação da Lava Jato favoreceu casos como os das refinarias onde rolavam licitações fraudadas, aditivos e superfaturamentos.

A mãe de um empreiteiro sempre poderá sustentar que o trabalho de seu filho resultou em obras visíveis, reais.

No caso de algumas unidades flutuantes o buraco é mais em cima, pois há equipamentos alugados, prontos.

O dinheiro vai de uma caixa para outra sem empregar vivalma.

Os investigadores de Curitiba começaram a mostrar o que sabem a respeito dos contratos do pré-sal.

Logo depois de sua posse na presidência da Petrobras, o comissário Aldemir Bendine lembrou que num novo plano de investimentos “talvez você pegue a SBM, que é uma importante fornecedora”.

Tão importante que foi proibida de fazer negócios com a empresa e, mesmo negociando um acordo de leniência, ainda não chegou a um acordo com a Controladoria-Geral da União.