Svengali de si próprio Por Ruy Castro, na Folha de São Paulo Certa vez, Nelson Rodrigues definiu a pessoa absolutamente só como um “Robinson Crusoé sem radinho de pilha”.

Mas Dilma Rousseff está pior do que Robinson –abandonada até por aqueles que, no dia seguinte à sua reeleição, ainda lhe faziam rapapés.

Não será surpresa se, em breve, não tiver sequer um contínuo para lhe levar cafezinho.

O eleitorado a abandonou porque descobriu que ela mentiu –o país que ela descreveu não existia.

Os sem-terra, sem-teto e sem-ética também a abandonaram porque acham que ela os traiu.

O PT, idem, porque as duras medidas econômicas que ela precisa tomar para tapar os buracos que seu governo abriu atingem a massa trabalhadora, o que deixa mal o discurso do partido.

E o próprio Svengali que a inventou, o ex-presidente Lula, já está lhe mostrando a língua, embora, por enquanto, delegue a função de atacá-la ao seu pajem, o senador Lindbergh Farias.

O que me pergunto é se Dilma foi a única autora do programa de seu primeiro governo, que quase quebrou o país, dos pronunciamentos triunfalistas que fez à nação naqueles quatro anos e das promessas eleitoreiras que conduziram à sua segunda vitória.

Não consigo visualizá-la sentando-se a um computador, hesitando por alguns segundos diante da tela em branco e finalmente pondo-se a escrever os projetos de lei, medidas econômicas e material de propaganda.

Quero crer que as decisões estratégicas de Dilma 1, os textos de suas mensagens delirantes e as mentiras de campanha tenham sido pensados, escritos, revistos e aprovados por seus auxiliares diretos no governo –companheiros de partido–, os quais nunca tomariam iniciativas que discordassem das orientações do líder maior, que é Lula.

Donde, se Dilma fracassou, quem é o responsável?

Hoje parece claro que Lula só deu certo como o Svengali de si próprio.