Negócios da China e além Por Clóvis Rossi O pacote chinês é suculento, mas o Brasil está se mexendo também em países como os EUA Li Keqiang, o premiê chinês, está trazendo um pacotão de cerca de US$ 53 bilhões (R$ 159 bilhões) ao Brasil, na visita que começa nesta terça-feira, 18.
Provoca, naturalmente, intenso ruído midiático, inclusive no exterior.
Mas, sem ruído, o Brasil está se aproximando também de um parceiro bem mais antigo e mais tradicional, um tal de Estados Unidos da América.
Por sinal, no ano passado, esse velho conhecido tornou-se o principal destino para as exportações brasileiras de manufaturados, desbancando a Argentina.
Como se sabe –e como se queixa reiteradamente o governo brasileiro–, a China importa do Brasil apenas produtos básicos, naturalmente de menor valor agregado.
Por isso mesmo, sem menosprezar o pacote chinês, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, trabalha no que no Mdic se chama de “agenda pragmática” com os norte-americanos.
Pragmática porque não lida com redução de tarifas, o que exigiria acordos de livre comércio, algo que está fora do horizonte.
Lida com dois temas centrais, convergência regulatória e facilitação de comércio.
Nada emocionante, portanto.
Não envolve mudanças de política comercial nem no Brasil nem nos Estados Unidos.
Mas, ainda assim, “é redução de custos na veia”, como diz Daniel Godinho, o secretário de Comércio Exterior.
Quer dizer o seguinte: ao fazer os regulamentos convergirem, eliminam-se etapas que significam custos com, por exemplo, testes de laboratório e o envio de amostras.
Facilitação de comércio, por sua vez, é o jargão para a redução da burocracia nas alfândegas, item em que o Mdic se orgulha de estar avançando com o Portal Único.
De novo, é mexer com a burocracia, o que pode ser complicado, mas é bem mais simples do que alterar tarifas de importação.
O Mdic espera que, na iminente visita de Dilma Rousseff aos Estados Unidos, essas iniciativas de redução de custos recebam um impulso político significativo.
Há um segundo evento de que a presidente deve participar e no qual também estará na agenda a questão comercial, esta sim de maneira mais substancial.
Trata-se da cúpula União Europeia/Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe, marcada para Bruxelas, nos dias 10 e 11 de junho.
O governo brasileiro espera aproveitar o encontro para cobrar da Europa uma data para a troca de ofertas com vistas à liberalização do comércio com o Mercosul.
Trata-se de uma negociação lançada em 1999, mas bloqueada há 11 anos.
O Mercosul conseguiu, com não poucas dificuldades, fechar uma proposta conjunta, depois de alguma resistência da Argentina.
A UE, no entanto, está demorando para se manifestar, em parte porque outra negociação mais suculenta, com os EUA, desvia o foco.
Enquanto não se avança nessa área, o Brasil negocia também acordos permitidos pelas regras do Mercosul porque não mexem com tarifas.
Acordos, por exemplo, na área de serviços.
Tudo somado, tem-se que a China é um grande parceiro, mas há vida em outros planetas também.