Na Folha de São Paulo Apontado como um dos líderes das empreiteiras acusadas de corrupção na Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa assistiu da cadeia a sua empresa, a UTC, encolher.

Desde novembro do ano passado, quando foi preso, o grupo demitiu 15 mil dos 30 mil funcionários e devolveu metade do prédio que sua sede ocupa em São Paulo para economizar no aluguel.

Tenta se desfazer de negócios menores, como a operação do aeroporto de Feira de Santana (BA), e agora negocia com bancos a venda de seu ativo mais vistoso: a participação de 23% no aeroporto de Viracopos (SP).

A venda do terminal faz parte das discussões para alongar o prazo do R$ 1,2 bilhão que a UTC deve a bancos –os principais credores são Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil.

A Folha apurou que as instituições estão dispostas a fazer um acordo, mas querem que o caixa seja reforçado com o dinheiro da participação em Viracopos.

Na avaliação de um dos bancos, a venda dos 23% poderia render de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões.

CLIMA DE DESCRÉDITO Com faturamento de R$ 5,5 bilhões no ano passado, o grupo de Ricardo Pessoa ficou debilitado depois da Operação Lava Jato.

A UTC está proibida (junto com outras 22 empreiteiras suspeitas) de participar de novas licitações da Petrobras e enfrenta dificuldades para obter novos financiamentos.

O grupo precisa encolher também para não desmoronar num ambiente marcado pela desconfiança em relação às empreiteiras e pelo corte nos investimentos do governo e da Petrobras, principais clientes do setor.

A UTC não quis comentar as mudanças, mas afirmou em nota que “vem adotando todas as medidas para preservar sua capacidade de produção e competitividade”.

CIGARRO E NEGÓCIOS Ricardo Pessoa e dois colegas compraram a UTC no final dos anos 1990 da empreiteira OAS, onde os três trabalhavam.

Na época minúscula, a empresa se transformou numa das maiores fornecedoras da Petrobras acompanhando o boom de investimentos da estatal durante os anos Lula.

Deu sua grande tacada em 2010, com a compra da empreiteira Constran, do empresário Olacyr de Moares, ex-rei da soja.

Hoje a empresa é acusada pelo Ministério Público de pagar propina para conseguir contratos na Petrobras.

Na quarta (13), Pessoa fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República para contar detalhes sobre o esquema de corrupção na estatal.

Longe do dia a dia dos negócios desde que foi preso, o empresário é o maior acionista e dá a palavra final sobre a reestruturação do grupo.

Ele passou mais de 160 dias na cadeia.

Solto no fim de abril, Pessoa agora está em prisão domiciliar e usa uma tornozeleira eletrônica para que a Justiça possa acompanhar seus passos.

Amigos contam que o empresário, antes de ser preso, tinha dois vícios –seus negócios e os dois a três maços de cigarro que fumava por dia.

Na cadeia, Pessoa parou de fumar.

Os negócios, nem ele sabe como vão ficar.