Paula Cesarino Costa, na Folha de São Paulo O portão do campus da Urca está fechado “por questão de segurança”, informa cartaz na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

No restaurante da Universidade Federal Fluminense (UFF), a suspensão das atividades foi anunciada “para preservar as condições sanitárias”.

Pelos campi, sacos de lixo se espalham pelos corredores, e os banheiros estão em porca miséria.

Focos de dengue se multiplicam.

Alunos trocam cadernos por vassouras.

Professores revezam-se na portaria.

A clínica de odontologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro deixou de atender 3.000.

A Uerj não tem limpeza nem segurança porque não paga fornecedores em razão da contenção de verbas do governo Pezão.

Milhares de alunos de universidades públicas tiveram as aulas suspensas.

A crise universitária é nacional, mas os acontecimentos do Rio descambam para a irresponsabilidade.

O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou “estranhar muito” a situação da UFRJ, que já teria recebido R$ 81 milhões no ano.

A reitoria divulgou que “metade do orçamento anual de custeio corresponde ao pagamento de serviços terceirizados”.

O reitor recém-eleito, Roberto Leher, disse que, entre 2007 e 2014, o número de alunos aumentou 55%, mas a verba de custeio caiu à metade.

Em 2011, R$ 230 milhões pagavam manutenção e 870 terceirizados.

Hoje, são R$ 301 milhões para 5.000.

Prevê: as federais não passarão de setembro.

Corte de orçamento e gestão ineficiente são irmãos siameses.

O problema é o modelo de ensino, de pesquisa, de financiamento e de lógica de gastos.

O Brasil conheceu a universidade com 200 anos de atraso em relação a seus vizinhos.

O educador Anísio Teixeira (1900-1971) escreveu em 1969: “A história da ideia de universidade no Brasil revela uma singular resistência do país em aceitá-la”.

No século do conhecimento e da inovação, o Brasil mudou de escala.

Optou por jogar as universidades no lixo.