Da FolhaPress O cenário, o icônico hotel Waldorf Astoria, ajudava a compor o clima da noite.

Vinte anos depois de deixarem o poder, tal como naqueles filmes norte-americanos de comédia em que idosos se reúnem para reviver os “melhores dias”, Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso não escondiam a satisfação ao reunirem 1.200 pessoas em Nova Iorque para receberem o prêmio de Personalidades do Ano, conferido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

Tratava-se de uma festa muito mais brasileira que americana, diga-se.

Políticos, empresários, diplomatas, executivos do setor financeiro e socialites se estapearam nós últimos dias por convites para ter a chance de se exibir em smokings e vestidos de gala e tirar selfies com os homenageados.

Aos 83, FHC encarou a maratona com uma vitalidade que fez o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e último candidato do partido ao Planalto, brincar: “Em 2018 já está definido: o candidato será Fernando Henrique”.

O ex-presidente não perdeu a chance de, em um discurso longo, proferido parte em inglês, parte em português, alfinetar o PT, que lhe atribuiu ao longo das últimas décadas uma “herança maldita” que teria sido legada por ele ao sucessor, Lula.

Na fala, FHC fez questão de pontuar o que considera avanços de sua presidência -a estabilização da moeda, a responsabilidade fiscal, a modernização de serviços como a telefonia, a abertura comercial do Brasil e uma política externa voltada para a crítica a regimes autoritários-, em contraposição ao momento atual do governo Dilma Rousseff, a quem atribuiu retrocessos. “Muito fizemos depois da Constituição de 1988 para refundar as bases de nosso progresso econômico e cívico.

Foi para o que joguei o melhor de minhas forças.

Nos últimos anos toda esta construção histórica parecia desfazer-se no ar.

Construção, repitamos, feita por gerações e diante da qual não dá para dizer o ’nunca neste país, antes de mim fez-se tal e tal coisa’, um país não se constrói senão pondo tijolo sobre tijolo, obra de gerações”, afirmou, sendo calorosamente aplaudido.

Numa fala mais nostálgica e menos elaborada que a do contemporâneo dos tempos de Presidência!

Clinton -que, a despeito de ser 14 anos mais novo, estava mais abatido que FHC, segundo a opinião generalizada dos convidados- preferiu rememorar episódios em que ambos atuaram juntos e a amizade que construíram.

Os dois tinham tomado café juntos na tarde da mesma terça-feira no escritório de Clinton. “Cardoso foi a pessoa certa no tempo dele.

Aliás, é a pessoa certa em qualquer tempo”, elogiou o norte-americano.

Um dos mestres de cerimônia da noites, o publicitário Nizan Guanaes, a quem coube “apresentar” Clinton antes de ele discursar, deu o tom de saudosismo reinante ao lembrar que “saudade” é uma palavra que só existe em português. “Ter saudade quer dizer sentir a falta de alguém.

Saudade, presidente Fernando Henrique”, afirmou o ex-marqueteiro da campanha de 1998 e da de José Serra em 2002.

Quando FHC foi anunciado, alguém na platéia gritou: “Volta FHC”.

Para quem há algum tempo não podia nem ser exibido na propaganda dos candidatos a presidente do PSDB por ter deixado a Presidência mal avaliado, foi uma noite de redenção.

Afiado, o próprio laureado não perdeu a chance de se referir à virada da moeda que saboreia 22 anos depois: “Perdi em vários momentos a popularidade, mas nunca a credibilidade.

Na quadra que atravessamos no nosso país, houve perda da credibilidade”.

Foi novamente ovacionado pela platéia saudosista.