Por Isabella de Roldão, vereadora do Recife Silêncio é o movimento involuntário dos corações de todas e todos que têm presenciado atônitos os últimos acontecimentos.

O silêncio não permeia a mente e as atitudes das pessoas que encheram e se arriscaram por participar democraticamente de um dos episódios mais angustiantes que marcaram a política democrática da nossa cidade.

Não há como desvincular os últimos acontecimentos dos violentos atos de 1964, que deram início a um longo período de tortura, perseguições e sofrimentos que mancharam o chão da nossa terra.

Eu nasci no período da ditadura e ouvia, mesmo que silenciosamente, os relatos e as angústias que os adultos não conseguiam disfarçar.

Tive tios presos e torturados.

Tive minha querida tia, Socorro Santos, que agora em maio completa seus 70 anos, tendo que enfrentar seus piores medos e acabar sendo exilada.

Ainda hoje, ecoam os gritos silenciosos dos porões da ditadura, das “casas da morte”, das celas, da salas…

Revivi isso, mesmo sem ter vivido conscientemente, quando vi a forma de condução da 32ª Reunião Ordinária que acontecia na tarde do dia 04 de maio de 2015.

INACREDITÁVEL!

A história se repetia e se repete ainda nos dias atuais.

A repressão.

A palavra cortada sob o simples argumento de que “já sei o que ela vai falar”.

Incrível ainda me dar conta de que este mesmo HOMEM, É O QUE TEM, JUNTO COM A GESTÃO, ME PERSEGUIDO NOS ÚLTIMOS MESES.

Tenho sido chamada de mentirosa, de atabalhoada, que tenho comportamento de quem tirou um brinquedo das mãos, noviça e agora se acha no direito de cortar minha palavra por saber o que eu ia falar…

A democracia está em cheque.

A palavra de uma representante do povo, eleita legitimamente num processo democrático conquistado a duras penas, dentro de uma casa legislativa não pode ser cerceado, sob pena de infringir pilares basilares que regem a Casa Municipal.

Tudo isso se dá porque questionávamos um projeto intitulado “Novo Recife” onde não enxergámos nada de novo, nenhum desafio, nenhum propósito que não delapidar nosso patrimônio histórico, desfigurar a nossa história e transformar a nossa cidade num “lindo parque de concreto vertical”.

Repensar a nossa cidade é sinônimo hoje de baderna, de arruaça, de coisa de marginal e foi sob esta justificativa que o HOMEM da Casa José Mariano, o mesmo que cerceou a minha fala e tem me desrespeitado reiteradamente, deu para fechar as portas de acesso as pessoas que chegavam à Casa do Povo.

O desrespeito começou por quem deveria dar o exemplo.

Qual a urgência e real necessidade de se colocar extra-pauta, aos berros e desconsiderando os procedimentos normativos de se agir desta forma?

O que efetivamente o nosso Recife precisa de urgente que justifique tamanho autoritarismo?

As pessoas da nossa cidade continuam vivendo cruelmente da mesma forma segmentada.

As comunidades continuam carentes de tudo.

As promessas feitas e gravadas em vídeo durante a campanha eleitoral estão registradas nos corações das pessoas que mais uma vez estão desiludidas e descrentes de uma política feita para as pessoas, com foco nas suas reais necessidades.

Ao final da desrespeitosa sessão, com a aprovação do então projeto “Novo Recife”, que ainda hoje não sei o que tem de novo, saindo de dentro do Plenário fui surpreendida com o estacionamento repleto de excluídos, e ao lado deles, para reforçar a democracia da Casa do Povo, estava a Guarda Municipal e a Polícia Militar e não tardando muito para o exemplo de democracia ser completo, chegou o Batalhão de Choque e com ele o temor da ditadura da violência, da perseguição e da tortura ficou ainda mais forte.

Incansavelmente os excluídos persistiam, não se rendiam, “ocupavam e resistiam”, me lembravam os mesmo estudantes da década de 60.

Já perto da meia noite chegaram três representantes do Ministério Público para garantir que não houvessem excessos da Polícia e nesta hora apresentou-se um advogado que estava ali representando a Ordem dos Advogados do Brasil, haja vista que advogados ali presentes estavam sendo ignorados e empurrados quando exerciam a sua função, e o mesmo nos disse assombrado que esperara três horas e meia do lado de fora dos portões, pois a Polícia não o tinha deixado entrar.

Pasmem!

Todos excluídos por um “Poder Supremo”.

E agora ficam as questões: a forma truculenta com a qual a Mesa lidou com a condução do “Projeto Novo Recife” nos leva a que?

A urgência do Prefeito sancionar e publicar no Diário Oficial on-line um projeto votado a pouco mais de três horas, mesmo estando em São Paulo, nos diz o que?

Muitas dúvidas, nenhuma resposta, mas uma coisa é certa, o Senhor Presidente da Câmara Municipal do Recife, Vicente André Gomes, nunca tratou de forma truculenta e com desdém nenhum VEREADOR que naquela Casa legisla.

Nunca o ouvi chamar de NOVIÇA e cassar a palavra de nenhum homem do legislativo, já o vi calar quando foi destratado por outro colega de igual envergadura, mas nunca o vi cercear a palavra de nenhum igual.

Será que além de antidemocrático, autoritário, ele também é machista e desrespeitoso com as mulheres?

Eu não vou me calar!

Parabéns a cada cidadão que saiu de casa pra lutar por todos.

Vamos ocupar a nossa cidade!

Não vamos desistir do Estelita nem tão pouco da nossa cidade.

Enquanto não temos resposta fica Chico Buarque a nos responder “DORMIA A NOSSA PÁTRIA MÃE TÃO DISTRAÍDA, SEM PERCEBER QUE ERA SUBTRAÍDA EM TENEBROSAS TRANSAÇÕES…”