Por Michel Zaidan Filho Estava eu saindo da UFPE, à noitinha, procurando me esquivar dos cabos eleitorais das diversas candidaturas à reitoria, quando fui abordando por um companheiro ligado a uma das chapas que, em tom de súplica, me pediu que o ouvisse.
Tudo bem: dizia que estava estarrecido diante do circo de horrores em que tinha se tornado a eleição para reitor da Instituição de ensino público.
Apoiador, como era, de uma candidata que não estava na primeira linha das chapas majoritárias (pelo apoio e os recursos), passou ele a relatar as práticas escabrosas utilizadas na campanha pelos candidatos, escabrosas de fazer corar o mais atrasado chefe político do interior.
Ora era o gestor/candidato que estava trocando cargos - de uma futura reestruturação administrativa da UFPE, por apoio eleitoral.
Ora era o uso desbragada da máquina administrativa para arrastar diretores, chefes, coordenadores etc.
Ora era a cabala descarada de votos por servidores da administração universitária, devidamente uniformizados, formando grupinhos em torno das urnas e sessões de votação, num declarado movimento de indução do voto de seus subordinados.
Segundo o colega, ocorreu até mesmo o episódio do candidato/gestor comparecer ao núcleo de aulas da graduação/CFCH, para “mandar os alunos descerem para votar (nele).
Será que a universidade tornou-se ela caudatária e herdeira de tudo que não presta na política partidária do país? - Ou seja, ao invés de ser um centro irradiador da mudança, da inovação, do espírito crítico, virou o museu de cera de Madame Tussauds, das velhas práticas clientelísticas dos currais eleitorais do interior?
Mais lamentável é ver colegas que se intitulam de esquerdistas, revolucionários e que tais ostentando no peito o nome de candidatos que se transformaram em meros gerentes do Governo Federal no âmbito da UFPE.
De nada adianta argumentar que uma pessoa que chama a Polícia Militar e Federal para o campus, que privatiza a gestão do HC, que criminaliza o movimentos estudantil, jamais poderia ser eleito por uma comunidade democrática e republicana.
Muito menos de docentes e acadêmicos.
Mas prevaleceu o corporativismo, o troca-troca, as promessas ocultas e não reveladas daqueles que ocupam a administração universitária, prometendo o céu, a terra e o mar.
Seja qual for o resultado dessas eleições, o processo está comprometido, muitas faltas foram cometidas contra a administração pública, pela partidarização, o uso da máquina, dos cargos, das hierarquias e até mesmo dos canais oficiais da comunicação universitária - usados sem cerimônia para propaganda oficial.
Numa disputa como essa, só tem perdedores.
Não existe ganhador.
Toda vitória será de Pirro.
E as consequências do troca-troca vão se revelar depois para a vida universitária, solapando a autoridade moral e acadêmica de seus membros.
Michel Zaidan Filho apresenta-se como filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.