Por Adriano Oliveira, especial para o Blog de Jamildo O principal desafio das Ciências Sociais é interpretar adequadamente a conjuntura.

Quando isto não ocorre, análises conduzem os leitores à constatação equivocada da realidade.

Na análise conjuntural não se deve desprezar os fatos e a qualificação adequada do momento que dado país vive.

Desde FHC, as instituições brasileiras avançam.

A Lei de Responsabilidade Fiscal incentivou os gestores a boas práticas de governança.

Privatizações possibilitaram a diminuição dos espaços do estado e, por consequência, enfraqueceu a dinâmica clientelista presente no presidencialismo de coalizão.

Na era Lula, a Ação Penal 470 permitiu que políticos fossem condenados pelo STF.

Em 2014, na era Dilma, a Operação Lava Jato é iniciada.

Em razão dela, diversos empresários e políticos foram detidos.

Um grande escândalo de corrupção pública envolvendo a Petrobrás veio à tona em razão das ações da Justiça Federal, Ministério Público Federal e Polícia Federal.

Variados órgãos de comunicação noticiam as ações advindas da Operação Lava Jato.

E da cobertura midiática, diversos fatos, que requerem julgamentos de valor por parte da opinião pública, brotam.

Os escândalos de corrupção que abundam no noticiário sugerem que as instituições brasileiras avançam e que aos poucos a paralisia deixa de fazer parte delas.

Governos, independentes dos que estejam no exercício do poder, sofrem com acusações.

Porém, desde a curta era Itamar, nenhum presidente da República foi acusado oficialmente por crime de responsabilidade ou falta de decoro.

No âmbito econômico, a alta da inflação, neste ano, não sugere, ainda, de modo algum, que o Brasil voltará à conjuntura econômica antes do Plano Real.

O pífio crescimento econômico de 2014 e, certamente, deste ano, não permite que ondas de pessimismo invadam as cabeças sábias.

Relatórios econômicos de variadas instituições presumem que em 2016, caso o ajuste fiscal seja aprovado, o Brasil voltará a crescer.

Os avanços sociais ocorridos desde as eras FHC e Lula podem sofrer momentânea paralisação e ínfimo retrocesso neste ano.

Mas tais possibilidades não sugerem desastres.

No presidencialismo de coalizão, presidentes da República disputam a supremacia nos campos midiáticos e Legislativo com os membros do Parlamento.

Tal dinâmica, costumeiramente, possibilita disputas, arengas.

Porém, em dado momento, algum ator, presidente ou congressista, cede e a relação volta à normalidade, ou seja, os conflitos diminuem.

Desde junho de 2013, manifestações implodem nas ruas do Brasil.

Redes sociais são arenas de disputas eleitorais.

Pesquisas de opinião mostram que a presidente da República, agremiações partidárias e Parlamentos sofrem de déficit de confiança.

Diante de tantos fatos, suspeita-se que o Brasil vive o caos.

Mas tenho outra interpretação: o Brasil avança institucionalmente e mais eleitores exigentes e inquietos surgem.

PS: Adriano Oliveira apresenta-se como Doutor em Ciência Política.

Professor da UFPE.

Sócio da Cenário Inteligência.

Consultor do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN).

Autor de diversos artigos e livros sobre o comportamento do eleitor, dentre os quais, Eleições não são para principiantes, Editora Juruá, 2014.